Thursday, July 13, 2006

O Supermacho, de Alfred Jarry

(edição de Fevereiro de 1975)



Cinta promocional

Título original: Surmâle
Autor: Alfred Jarry (n:1873, m:1907)
Tradução: Luísa Neto Jorge
Capa e Ilustrações (15): Nuno Amorim

Edição que apresenta alguns textos sobre Jarry, um dos quais por Tristan Tzara, e ainda uma cronologia do autor.


Texto na badana:

O herói de O Supermacho
consegue bater o record do “Índio tão celebrado por Teofrasto” de que fala Rabelais: às setenta do Índio responde com oitenta e duas seguidas no acto do amor.
Sendo a estória, ou o teatro literário, desse feito (contrapontado de competição desportiva, para o caso ciclista – ou não fosse Jarry o amante por excelência das bicicletas), O Supermacho tem passado, a coberto de uma subclandestinidade, por um dos mais “explosivos” livros eróticos do nosso tempo. É-o de facto – mesmo para além do episódio motivador.
“Romance moderno” chamou-lhe Jarry, quando o deu à estampa em 1902, seguindo talvez o preceito de Rimbaud: “É preciso ser absolutamente moderno.”
Assim hoje o podemos ler, entre o prazer e o espanto.
È que
O Supermacho
adianta extraordinariamente as pesquisas e as conquistas da narrativa contemporânea, surgindo aos nossos olhos como um autêntico romance fantástico e de antecipação erótico-científica, quer pela invenção fecunda, mesclada do típico humor do criador de Ubu, quer pela engenhosidade e fluência dos achados romanescos.
Sem escabrosidade, mas igualmente sem preconceito de sentimentalismo ou subjectividade – portanto directo, puro, nu e cru – o romance de Jarry vem ao encontro de uma filosofia do amor erótico gerado pela “civilização mecânica” que até entre nós, sobretudo nas novas gerações, ensaia autodeterminar-se expulsando mitos e tabus, frustrações e recalcamentos – numa palavra, finalmente praticando o Amor ao Corpo.
Excedei-vos! – eis a moralidade que poderemos extrair deste romance tanto tempo “maldito” e que ocupa, na obra de Alfred Jarry como na literatura que se arrisca moderna, lugar da mais alta importância.
...No entanto cuidado, ó Supermachos: ele há sempre uma Superfêmea, por mais vestida de frágil, capaz de ganhar a partida...



Ilustração de Nuno Amorim