Pinguim em Fundo Branco - a história e a ilustração
Era uma vez um pinguim...
Vocês estão a ver uma enorme planície branca, muito branca, luzidia, muito luzidia... A terra está coberta de gelo. O mar está gelado. Aquela onda, acolá, que ia a crescer sobre a onda seguinte, ficou suspensa no ar, a meio do movimento. Gelada. É uma onda a posar para um retrato, muito quietinha, à espera do degelo para acabar de ser onda.
As noites são brancas, os dias são brancos e o sol, que se escondeu, também era branco. Apetece falar de mil lençóis estendidos no chão, de claras batidas em castelo, de «chantilly», de natas, de leite, de mantas de arminho, de gelados de baunilha, mas nada disto serve. O Pólo Sul é ainda mais branco. Tal e qual como vos digo.
No centro de toda esta brancura não é difícil encontrar um pinguim. Os pinguins têm o papo coberto de penas brancas, mas o dorso, as asas e a cabeça embuçados em penas pretas. São umas aves muito respeitáveis, que se passeiam de um lado para o outro com as asas atrás das costas, e fazendo muitas curvaturas com a cabeça. Quem as vir pela primeira vez dirá:
- Parecem pessoas de casaca.
Enganam-se. Quando as pessoas começaram a andar de casaca já havia pinguins, há muito tempo. Por isso talvez se pudesse dizer, vendo um cortejo de pessoas encasacadas:
- Parecem pinguins...
Mas lá me estou eu a afastar da minha história. Toca a voltar ao princípio:
Era uma vez um pinguim... todo branco.
Nunca se tinha visto nada de semelhante no Pólo Sul e arredores. O caso parecia tão estranho para os restantes pinguins pretos e brancos, como se de um ovo de pinguim tivesse nascido um papagaio. Nem mais!
O pinguim da nossa história tinha a cabeça e as asas brancas como uma pomba e o papo branquinho como o de qualquer pinguim que se preze. De resto, quanto à configuração do corpo, ao modo de andar e aos meneios da cabeça não se punha em dúvida que não fosse pinguim, mas... branco.
Naquele eterno deserto de gelo, sem nada de interesse que distaria a vista e ajude a passar o tempo, os pinguins entretêm-se a jogar às escondidas. Jogam por desfastio e porque não há mais nada para fazer. Um fecha os olhos e conta, pausadamente, até dez, e os outros correm (devagarinho!) a esconder-se.
- Já está! – dizem eles.
Numa terra em que tudo é branco, o jogo das escondidas não é nada fácil. De um monte de gelo ou da crista gelada de uma onda, sobra sempre uma pena mal alisada das asas, o cocuruto da cabeça ou uma pontinha do rabo que logo se distinguem do fundo todo, todo, todo branco.
- Vi-te.
- Não me viste nada – e, sem querer, o pinguim escondido mostra um bocadinho mas das asas pretas.
- Agora é que te vi.
Assim se divertem os pinguins, no Pólo Sul. Mas o nosso pinguim todo branco não podia jogar às escondidas, porque os outros não deixavam. Como é que havia de se descobrir um pinguim todo branco no meio daquele deserto de gelo tão branco como o pinguim todo branco?
Por isso o pinguim todo branco vivia muito triste, sem ter com quem brincar. Passava os dias a dormir e a sonhar com gelo azul, verde, amarelo, lilás... enfim, de qualquer outra cor que lhe permitisse jogar às escondidas com os seus irmãos, os pinguins pretos e brancos.
.......
Da última vez que eu estive no Pólo Sul, fui encontrá-lo muito desanimado. Contou-me as suas desgraças e pediu-me auxílio.
- Vamos ver o que se pode arranjar! – respondi-lhe eu.
Pensei em várias soluções irrealizáveis, coisas do arco-da-velha, completamente desmioladas, e acabei por lhe pedir para vir comigo.
- Tenho a impressão que lá, em Lisboa, tudo se resolve. Venha daí!
Ele veio. Levei-o para minha casa, arranjei-lhe um lugar mais ou menos confortável no frigorífico e telefonei para um amigo meu, que é um pintor cheio de talento e uma pessoa muito amável.
Queria que vissem a ligeireza e a perícia com que ele pintou as asas, o dorso e a cabeça do pinguim todo branco. Trabalho perfeito! E, como ponto final de distinção, ainda lhe desenhou um laço primoroso a realçar-se sobras as penas brancas do peito.
Já não era o pinguim abatido e descorado que eu trouxera comigo, mas um pinguim novo, fresquinho, a cheirar a tintas, um distinto pinguim branco e preto.
Seguiu logo para o aeroporto, com imensa pressa de voltar para os desertos gelados do seu país.
.......
Recebi há dais do Pólo Sul, uma pequena carta cheia de cumprimentos e agradecimentos ao meu amigo pintor, mais isto e mais aquilo... e acabava pedindo muita desculpa por não escrever mais, mas os outros pinguins estavam a chamá-lo para ir jogar às escondidas.
Vejam como é fácil tornar feliz um pinguim!
- Vamos ver o que se pode arranjar! – respondi-lhe eu.
Pensei em várias soluções irrealizáveis, coisas do arco-da-velha, completamente desmioladas, e acabei por lhe pedir para vir comigo.
- Tenho a impressão que lá, em Lisboa, tudo se resolve. Venha daí!
Ele veio. Levei-o para minha casa, arranjei-lhe um lugar mais ou menos confortável no frigorífico e telefonei para um amigo meu, que é um pintor cheio de talento e uma pessoa muito amável.
Queria que vissem a ligeireza e a perícia com que ele pintou as asas, o dorso e a cabeça do pinguim todo branco. Trabalho perfeito! E, como ponto final de distinção, ainda lhe desenhou um laço primoroso a realçar-se sobras as penas brancas do peito.
Já não era o pinguim abatido e descorado que eu trouxera comigo, mas um pinguim novo, fresquinho, a cheirar a tintas, um distinto pinguim branco e preto.
Seguiu logo para o aeroporto, com imensa pressa de voltar para os desertos gelados do seu país.
.......
Recebi há dais do Pólo Sul, uma pequena carta cheia de cumprimentos e agradecimentos ao meu amigo pintor, mais isto e mais aquilo... e acabava pedindo muita desculpa por não escrever mais, mas os outros pinguins estavam a chamá-lo para ir jogar às escondidas.
Vejam como é fácil tornar feliz um pinguim!
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