Ilustrações para a Nova Recolha de Provérbios e Outros Lugares Comuns Portugueses
Em
Outubro de 2010 o ISPA – Instituto Universitário, promoveu uma exposição,
intitulada Encenações de uma
Mitologia, com as ilustrações que Henrique Manuel fez para a edição
da Afrodite, Nova
Recolha de Provérbios e Outros Lugares Comuns Portugueses, em 1974. A
acompanhar essa exposição foi editado um catálogo que reúne todas as
ilustrações, e que neste post se
apresenta.
Autor: Henrique Manuel
Titulo: Ilustrações para a
Nova Recolha de Provérbios Populares e Outros Lugares- comuns Portugueses
Editor: ISPA – Instituto UniversitárioTexto: Ricardo Henriques
Consultor: Artur Henriques
Grafismo: Ricardo Romão
Assistente de Produção: Cláudia Moura
Coordenação Editorial: António Melo
O ISPA – Instituto Universitário agradece ao designer Artur Henriques, amigo e companheiro de trabalho do artista, a dedicação e empenho que tornaram possível esta possível exposição.
Gratos também à Ângela Freitas e
à Maria José Teixeira, à Família do editor Fernando Ribeiro de Mello, que nos
facultaram parte das obras, e ainda ao Ricardo Henriques que aceitou escrever sobre
o «tio».
TEXTO-COMUM
Nenhuma Coisa pode ser nacional se não é popular, Almeida Garrett
No ano da graça de 1974, cinco
meses volvidos sobre a Revolução dos Cravos veio a prelo a Nova Recolha de Provérbios e Outros Lugares- comuns
Portugueses, livro com a chancela das Edições Afrodite de Fernando Ribeiro
de Mello, coordenação e introdução a cargo de Manuel João Gomes, e capa e
ilustrações de Henrique Manuel. O que o parágrafo anterior, propositadamente
repleto de frases feitas, atesta é que adágios, aforismos, apotegmas, anexins,
chavões, clichés, dichotes, ditados, ditos, chavões, lugares-comuns, máximas,
provérbios, rifões e sentenças, continuam a dominar o dia-a-dia, e, como sabemos
o dia-a-dia domina a linguagem.
O livro teve ainda mais duas
edições em 1986 (com prefácio de Moisés Espirito Santo) e 1988. Hoje sente-se
em cada poro do texto inicial o espírito da revolução em curso que se vivia,
demasiado solícito em encontrar a alienação do povo em cada pedaço de memória.
Em, “algumas advertências mais prévias” os autores deixam estes avisos sobre
provérbios populares:
1º - não são populares;
2º são, em vez de sabedoria popular, a negação da sabedoria e da humana
faculdade de pensar e de construir linguagem e, logo, o saber;
3º - são sim fixação de um saber com origem reacionária.
Sendo verdade que certos
provérbios podem ser vistos como obscurantistas – pensa muito, fala pouco,
escreve menos – de modo a que a cultura estabelecida e dominante mantenha o
povo ignoto e controlado; e que os lugares-comuns estão para a linguagem como
os destinos –comuns estão para os viajantes – armadilhas fáceis para quem não
gosta de pensar; certo também é que na Antiga Grécia no discurso retórico
clássico o lugar-comum tinha um valor fundamental no processo de associação de
ideias e convencimento dos inter locutores.
Grego no discurso ou
revolucionário em curso, o leitor destas linhas olha para os desenhos de
Henrique Manuel e não vê qualquer ameaça de fossilização. São 18 ilustrações
que interpretam, 17 lugares-comuns (2 desenhos para “a cada um aquilo que é
seu”) que definem o português de uma forma sucinta, directa e corrosiva, como
só uma boa ilustração pode fazer. As interpretações dos lugares-comuns variam
entre o exagero, o antagonismo, a ironia e a descontextualização. Veja-se o
desenho do provérbio – “Quando o mal é de nação… nem a poder de nação!”, o país
lençol manchado de nódoas é mais sintomático do que a bandeira nacional, tal
como a canção dos Deolinda “Movimento Perpétuo Associativo” é muito mais
Portugal do que A Portuguesa.
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