Antologia do Humor Português
(edição de 1969)
Colecção Antologia
Selecção e Notas: Vergílio Martinho e Ernesto Sampaio
Prefácio: Ernesto Sampaio
Capa e Paginação: Sena da Silva
Desenhos: Carlos Ferreiro, Eduardo Batarda, João Machado, José Rodrigues
Os autores e o editor agradecem a colaboração de: Arq. Leonor Oliveira, David Mourão-Ferreira, Jorge Antunes, José Marques de Abreu, Luís Pestana, Ricarte Dácio de Sousa e Vítor Silva Tavares.
Livro vulgarmente conhecido como o tijolo (pela espessura das suas 1008 páginas e coloração laranja da capa), ou o livro da dentadura.
A Antologia do Humor Português contém sessenta e dois autores. Inicia-se com Cantigas d´Escarnho e Mal Dizer e termina nos nossos dias. Inclui textos, entre outros, de Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, D. Francisco Manuel de Melo, Padre Manuel Bernardes, Autor Anónimo da Arte de Furtar, Cavaleiro de Oliveira, António José da Silva, Nicolau Tolentino de Almeida, José Agostinho de Macedo, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Gomes Leal, Cesário Verde, Fialho de Almeida, Teixeira-Gomes, António Feijó, Mário Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, José Rodrigues Miguéis, Branquinho da Fonseca, Ruben A., Manuel de Lima, Natália Correia, Alexandre O´Neill, Mário Cesariny, António Maria Lisboa.
Texto na badana
A ideia que presidiu à organização da Antologia do Humor Português foi a de evitar tanto quanto possível o riso fácil, preferindo-se seleccionar autores e textos em que o humor tivesse função crítica e demonstrativa de duma literatura maior, indo-se assim ao encontro do possível autêntico «espírito» português. Na verdade, um humor que fosse forma de libertação e elevação, como diz Freud, e não de degradação. A tarefa não foi impossível. De Gil Vicente aos dias de hoje existe de facto na nossa literatura uma linha de força expressa pela sátira, pela crítica de costumes e pela farsa, que corresponde inteiramente ao critério adoptado. Critério que pode caber no que Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão escreveram no primeiro número de As Farpas: «Vamos rir. O riso é um castigo, uma filosofia». E nestas palavras a Antologia do Humor Português tem toda a sua justificação. Pois encerra a força de uma gente que sempre necessitou de criar uma linguagem adaptada às circunstâncias, de dissimular os seus processos de exteriorização, de reter os seus impulsos mais íntimos.
Numa palavra, de dosear cautelosamente o ranger dos seus dentes. E é aqui que se encontra o ponto crucial do humor nosso, o seu sinal mais importante e profundo. Forma de riso resultante que gravita longe do domínios do sonho, das esferas do irreal, antes se radica, e por vezes com que força e arte, no mundo palpável, vivente, processando-se através da gargalhada exuberante, do verbo caudaloso, do chiste sem piedade, do sarcasmo, da caricatura, do pormenor burlesco, da louvaminha tendenciosa, da violência, da crueldade, da felicidade, da ironia, do absurdo, da regra moral até, do grotesco, enfim, das muitas formas que podem compor o humor, de modo a repetir ou aceitar o que se odeia, o que se ama ou o que se despreza.
A ideia que presidiu à organização da Antologia do Humor Português foi a de evitar tanto quanto possível o riso fácil, preferindo-se seleccionar autores e textos em que o humor tivesse função crítica e demonstrativa de duma literatura maior, indo-se assim ao encontro do possível autêntico «espírito» português. Na verdade, um humor que fosse forma de libertação e elevação, como diz Freud, e não de degradação. A tarefa não foi impossível. De Gil Vicente aos dias de hoje existe de facto na nossa literatura uma linha de força expressa pela sátira, pela crítica de costumes e pela farsa, que corresponde inteiramente ao critério adoptado. Critério que pode caber no que Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão escreveram no primeiro número de As Farpas: «Vamos rir. O riso é um castigo, uma filosofia». E nestas palavras a Antologia do Humor Português tem toda a sua justificação. Pois encerra a força de uma gente que sempre necessitou de criar uma linguagem adaptada às circunstâncias, de dissimular os seus processos de exteriorização, de reter os seus impulsos mais íntimos.
Numa palavra, de dosear cautelosamente o ranger dos seus dentes. E é aqui que se encontra o ponto crucial do humor nosso, o seu sinal mais importante e profundo. Forma de riso resultante que gravita longe do domínios do sonho, das esferas do irreal, antes se radica, e por vezes com que força e arte, no mundo palpável, vivente, processando-se através da gargalhada exuberante, do verbo caudaloso, do chiste sem piedade, do sarcasmo, da caricatura, do pormenor burlesco, da louvaminha tendenciosa, da violência, da crueldade, da felicidade, da ironia, do absurdo, da regra moral até, do grotesco, enfim, das muitas formas que podem compor o humor, de modo a repetir ou aceitar o que se odeia, o que se ama ou o que se despreza.
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