Friday, August 10, 2007

Ernesto Sampaio


Ernesto Sampaio (10-12-35, 05-12-01) colaborou em duas das mais importantes edições de Fernando Ribeiro de Mello: a Antologia do Humor Português e a Antologia do Humor Negro de André Breton. Foi responsável pela selecção e notas da primeira (em colaboração com Virgílio Martinho), escrevendo também o prefácio, quase se podendo afirmar que foi o autor da Antologia do Humor Português.
Na Antologia do Humor Negro foi tradutor com Aníbal Fernandes, Isabel Hub, Jorge Silva Melo, Luísa Neto Jorge e Manuel João Gomes. Traduziu os textos de Georg-Christoph Lichtenberg e Lewis Carrol.


Tudo Existe na Sombra (espécie de biografia, adapatda de In Memoriam no Bibliomanias):

Ernesto Sampaio foi um dos grandes teóricos do surrealismo, embora a sua obra seja curta e o seu temperamento tenha sido discreto. Disse ele, numa entrevista ao PÚBLICO (12-10-93): "Dá-me um certo prazer ser esquecido, assistir às coisas como se não existisse, como se não tivesse uma presença real, estar e não estar".
Este desejo de estar à parte, numa espécie de não visibilidade, tornou-o pouco conhecido dos leitores, mas um nome indispensável para o conhecimento das margens da literatura portuguesa contemporânea, ao lado, por exemplo, de Cesariny, Herberto Helder, Ângelo de Lima ou António Maria Lisboa. O próprio Herberto antologiou-o na sua obra "Edoi Lelia Douro" ("Assírio e Alvim", 1985) e escreveu sobre ele: "As reflexões sensíveis deste autor, os seus poemas - meditações ou como se lhes queira chamar - são dos textos mais agudos e corajosos que entre nós se escreveram, na modernidade, dentro da e sobre a "experiência poética".

Ernesto Sampaio nasceu em Lisboa em 1935. Considera a sua terra natal horrível, infestada de provincianos, de bimbos criminosos, mas mesmo assim, pelo menos a Ocidente, nunca viu outra melhor.
Infância e adolescência um tanto pasmadas: foi quase sempre último da classe até que de repente passou a ser o primeiro. Nesse mesmo ano abandonou os estudos e partiu à aventura. Voltou arrependido.
Depois como toda a gente, aceitou a canga do trabalho e deixou-se esticar pela roda infatigável do hábito e da rotina: foi actor, bibliotecário, jornalista [&ETC, DN, DL, Público], professor do ensino secundário, entre outras desvairadas profissões [foi tradutor de Artaud, Breton, Péret, Arrabal, Ionesco, Thomas Bernhard, Arthur Adamov, Walter Benjamin, Oscar Wilde, Eliot, etc] mas agora deixou-se disso. Ninguém sabe de que vive, nem sequer ele próprio, embora viva bem …” [in Feriados Nacionais, Fenda, 1999]

[Bibliografia: Luz Central (1957); Para uma Cultura Fascinante (1958); Antologia do Humor Português (1969); A Procura do Silêncio (1986); O Sal Vertido (1988); Fourier (1996); Feriados Nacionais (1999); Ideias Lebres (1999); Fernanda (2000)]