Saturday, September 08, 2007

Outra recensão crítica à Antologia do Conto Fantástico Português



Recensão Crítica à Antologia do Conto Fantástico Português publicada no Jornal de Letras e Artes n.º 258, de Março de 1969.

«ANTOLOGIA DO CONTO FANTÁSTICO PORTUGUÊS», Edição de Fernando Ribeiro de Mello, Lisboa, 1967 – Abrangendo um período que vai de Alexandre Herculano ao escritor Almeida Faria, esta força de selecção de algo que em definitivo não se afirma é operação que fica por esclarecer. Nota-se a falta de um prefácio que fornecesse ao público ledor o móbil da intentona. A nota do editor, apenas avisando que foram escolhidos textos que «mergulham numa atmosfera de estranheza e em que se manifesta a irrupção de elementos insólitos ou inexplicáveis» não ficaria mal num prolegómeno ao aparecimento da Virgem Maria (que efectivamente surge, a págs. 347 do livro) e de outras estranhezas de recuperação teológica. Aliás, a própria noção de fantástico é uma categoria degradada na ficção contemporânea, e só o arrepio de medo com que vemos sucederem-se, neste volume, um Ferreira Castro a um Mário de Sá-Carneiro e um Carlos Wallestein a um Eça de Queiroz tem, no meio disto tudo, algo de fantéstico. A partir de meio-volume, vasta quantidade de autores vivos reconhece-se pela singularidade de ser constituída por nomes que nunca assinaram nada de fantástico, ou o fizeram pela primeira vez. Com vistas a esta antologia? Caso afirmativo, devemos considerá-la como um caderno de vocações inéditas, como uma nova espécie de revista literária, restando-nos nesse caso aguardar os próximos volumes.

A. L.