Monday, February 15, 2010

Luiz com Zê no Montag


Do blog Montag, de Pedro Marques, retirámos este interessante texto sobre Luiz Pacheco e as Edições Afrodite:


Luiz com zê

A (re)leitura recente de alguns textos das edições originais dos Textos de Guerrilha (compradas a preço de chuva na papelaria/livraria Ler ao Campo de Ourique, outrora a mesmíssima Ler que os publicara), complementada por um volume de crónicas publicado pel ’O Independente em 2004 (agora já oportunisticamente aumentado para 15 Euros e que se encontra por aí nas Feiras do Livro das estações de metro e comboio) onde está uma obra-prima da “critiquístisca” literária portuguesa, Um poeta muito famoso em Massamá (publicada em 1971, e que devia ser de leitura obrigatória), fez-me procurar por mais livros de Luiz Pacheco. Difícil tarefa agora, em hora de “canonização” na Biblioteca Nacional (que, apesar de Nacional, ou seja, de todos nós, contribuintes, não consegue fazer publicar um catálogo de exposição mais barato do que 30 Euros – valores mais altos se “leyavantaram”…), e em que os preços das suas edições originais disparam por esse mercado alfarrabista agradecido.

Foi essa busca que me fez regressar a um blogue que encontrei há uns anos e que, noto com satisfação, continua activo. Trata-se do arquivo online das edições Afrodite, no qual se continuam a encontrar verdadeiros tesouros da que foi uma das mais loucas aventuras da edição em Portugal, tendo ao leme Fernando Ribeiro de Mello, um misto e émulo devidamente excêntrico de um Maurice Girodias, um Jean-Jacques Pauvert, um Eric Losfeld ou um Barney Rosset. As comparações não são desmedidas: pelo que se pode ver, os livros da Afrodite tinham uma qualidade gráfica ímpar, que emparelhava com as ambições (essas sim, algo desmedidas, ainda que corajosas) do seu editor.
Pacheco fora colaborador pontual da Afrodite, coisa que lhe trouxera amargos antes da Revolução, pelo que esta edição de 1977 dos seus Textos Malditos (com “arranjo gráfico” do próprio editor, e onde se inclui o “infame” Libertino) parece, talvez uma devida recompensa, certamente uma prova da possível consagração que por então gozava o autor “marginal”. Surpresa para mim foram as excelentes ilustrações de Henrique Manuel (mais amostras aqui e aqui), a começar na icónica capa: é-me difícil acreditar que Pacheco tivesse algo a apontar a tanto esmero (terei de confirmar). Um daqueles livros já quase inacessíveis e que vai a caminho do panteão da edição em Portugal (não o “outro”, porque os ossos de Jorge de Sena* não iriam certamente gostar da companhia…).

* Nota: pela vigilância atenta do autor e tradutor Octávio dos Santos fui informado que, de facto, a trasladação dos restos mortais de Jorge de Sena teve como destino o Cemitério dos Prazeres (cá estamos de novo em Campo de Ourique) e não o Panteão Nacional.

Pedro Marques