Wednesday, November 22, 2006

Filinto Elísio na Poesia Portuguesa Erótica e Satírica – Séc. XVIII – XIX

Filinto Elísio (1734 – 1819)

Francisco Manuel do Nascimento foi um entre os muitos que tiveram de emigrar por causa das “idéias”. Consta ter sido denunciado pela própria mãe, em confissão. As polícias secretas têm sempre muitos e vários admiradores...
Não admira que Filinto Elísio, de quem se tornou notória a pobreza de exilado, associe, em suas amargas sátiras, a cupidez do Clero aos costumes menos morais dos seus ministros.

Soneto

Nasci – logo a meus pais custou dinheiro
o baptismo, que Deus nos dá de graça.
Tive uso de razão – Perdi a graça –
dei-me ao rol chegou a páscoa – dei dinheiro.

Quis casar com uma moça – mais dinheiro.
Brinquei com ela – não brinquei de graça:
Que aos nove meses me custou a graça
Para o Mergulhador capa e dinheiro.

Morreu minha mulher – não achei graça
e menos graça no arbitral dinheiro
da oferta; que o prior não vai de graça.

Se o ser sacristão requer sempre dinheiro,
como cumprem com dar graças de graça
o que as graças nos vendem por dinheiro?