Friday, June 08, 2007

Funções de Cesariny

No folheto «As Avelãs do Cesariny», Fernando Ribeiro de Mello começa por apresentar o autor de Pena Capital, como «grande poeta surrealista-funcionário-Censor do Jornal de Letras e Artes». A acusação de censor, fundamenta-se na folha «Funções de Cesariny», de Virgílio Martinho, onde este, acusa o poeta surrealista de ter «suprimido arbitrariamente» a publicação da crítica referente a «Textos Locais» de Luiz Pacheco. É a imagem de um raro exemplar dessa folha que apresentamos:



Funções de Cesariny

Mário Cesariny de Vasconcelos, secretário do «Jornal de Letras e Artes», no exercício das suas funções de empregado escritor deste jornal resolveu suprimir arbitrariamente a crítica referente a «Textos Locais» de Luiz Pacheco, conquistando assim um posto policiário que o integra no senso comum e o reabilita definitivamente na ordem cultural daqui.


ou por outras palavras:


Sabia que foi poeta dos bons
Sabia que foi surrealista
Sabia que é também pintor
Sabia que se António Maria Lisboa
estivesse cá ele não era assim
Sabia que é estratega das letras e artes
Sabia que foi do Marquês da Sade
Sabia que mete a tesoura no Breton e até no Arthur Miller
Sabia da sua inclinação patriótica pela Vieira da Silva
Sabia que a Fundação Gulbenkian o queria
Sabia que está cadáver exquisito
Sabia que ganha a vida com surrealismo de cá
e lá por grosso e a retalho

Sabia mas achei sempre graça
Porque não sabia que
ERA CENSOR

Agora que sei e por haver muitos
Comunico a sua recente profissão


Virgílio Martinho

Abril de 68