Saturday, May 05, 2007

Natália Correia


Natália Correia teve participação activa na história das Edições Afrodite. Foi a responsável pela composição da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, edição pela qual respondeu em Tribunal. Escolheu os autores e poemas, escrevendo ainda o prefácio e as notas bibliográficas. Posteriormente, "avalizou" a edição pirata da Antologia, após o "desbaste" que as forças policiais do Estado Novo deram a alguns exemplares da edição original. Na editora de Fernando Ribeiro de Mello publicou três livros: um de poesia, intitulado O Vinho e a Lira (também alvo da censura), e duas peças de teatro: O Encoberto e Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente, esta numa luxuosa edição, da qual existem mil e quinhentos exemplares numerados e autografados pela autora. Escreveu ainda um dos comentários à Arte de Furtar. Da edição original da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, há uma tiragem especial de 500 exemplares numerados e autografados pela escritora nascida nos Açores. Nesta Antologia, Natália Correia apresenta-se assim:

Natália de Oliveira Correia, nasceu em 1923 na ilha de S. Miguel (Açores) vindo, criança para Lisboa, onde fez os seus estudos liceais.
Frequentemente arrumada pela crítica no cacifo surrealista, tem a autora a esclarecer que, se semelhante arrumo quadra à comodidade dos nossos fazedores de génios, de forma alguma define a sua poesia. Trata-se de um equívoco em que facilmente resvalam quantos não discernem a poesia senão através de esquemas. A verdade apresenta um aspecto totalmente inverso desta interpretação. Entendendo a poesia como substância mágica desorbitada da sua funcionalidade primitiva, que o poeta desespera por restituir à sua natureza orgânica primordial, afim de a tornar eficaz na recriação do mundo, por esta linha, «ante» e «post» surrealista, se presta a poesia de Natália Correia a ser integrada num movimento que não inventou mas apenas focou esta intrínseca constante do fenómeno poético.
Publicou teatro, ensaio e os seguintes livros de poesia: «Poemas» (1954); «Dimensão Encontrada» (1957); «Passaporte» (1958); «Comunicação» (1960) e «Cântico do País Emerso» (1961).
O erotismo, como ressumbração de uma vivência amorosa individual está longe de caracterizar a obra desta poetisa. Todavia, no sentido lato de um universo erotizado, animado pela impaciência genesíaca de sucessivamente se exceder, é-lhe gradual o desenvolvimento da perspectiva erótica que se afirma, sobretudo, em «Cântico do País Emerso». Esta evolução corresponde a um aprofundamento do mistério telúrico da mulher, que é a própria jornada da sua poesia, resultado no comprazimento de se observar como força genesíaca, deslumbradamente actuante na cópula primordial que a terrena espelha.