Tuesday, March 20, 2007

Os Normalizados, de Christian Jelen

(edição de Março de 1978)

Colecção Doutrina / Intervenção
Prefácio de Pierre Daix
Posfácio de Illios Yanna Kakis
Tradução de Maria Guilhermina Ramalho
Capa de Jorge Cardoso
Edição e arranjo gráfico de Fernando Ribeiro de Mello / Edições Afrodite

Na contracapa


Este livro é, antes de mais, uma verificação autenticada: o socialismo de inspiração soviética perpetua as alienações que o regime capitalista começou a desenvolver. Por muito traumatizante que seja esta afirmação, ela não tem nada de escandaloso, não só porque personalidades como Pierre Daix garantem a sua veracidade, mas também porque existem provas de convicção do dossier; foram tiradas da imprensa, embora censurada, dos países de Leste, uma Imprensa, que Christian Jelen sistematicamente analisou durante três anos.

Não se trata agora da questão de abordar, uma vez mais, o socialismo soviético a partir do terror estalinista e dos grandes processos dos anos 50, dos campos de trabalhos forçados, dos asilos psiquiátricos e das depurações. Trata-se apenas da vida quotidiana de milhões de pessoas anónimas, da ausência de democracia nas empresas, do reino dos chefes pequenos e grandes, das dificuldades de abastecimento e da habitação, dos milhares de regulamentações administrativas que obrigam aqueles que são esmagados por elas a fugir à lei. Partindo destes factos, pode dizer-se que as sociedades da Europa de Leste se caracterizam concretamente pela inversão dos valores que deram origem, ao movimento socialista.

Este livro faz-nos viver, impiedosamente, o que se esconde por detrás da teoria e das aparências: a deterioração das relações entre os indivíduos – violência e egoísmo sem escrúpulos tornam-se qualidades sociais – a penúria que dá origem à inveja e ao roubo sistemático da propriedade colectiva, a vigilância policial que leva os cidadãos a refugiarem-se num individualismo exacerbado, a insegurança financeira dos trabalhadores, que os leva ao trabalho «escuro» melhor remunerado, a taxa muito elevada de emprego nas mulheres, o que conduz a uma forte percentagem de divórcios e a uma baixa trágica na natalidade, sem falar das neuroses, do alcoolismo e da delinquência juvenil.

Todos estes comportamentos, assim como outros relatados aqui, confirmam a urgência para a esquerda ocidental de uma análise imparcial e sem rodeios das experiências da Europa e Leste. Somente uma tal análise permitirá que outras experiências se concretizem e desenvolvam de uma forma radicalmente diferente.