Arte de Furtar, Anónimo do Séc. XVII
(edição de 1970)
Colecção Clássicos
Desenhos de Eduardo Batarda
Comentários de Natália Correia, Armando Castro, Hernâni Cidade e João Bénard da Costa
Arranjo Gráfico de Paulo-Guilherme
Desenhos de Eduardo Batarda
Comentários de Natália Correia, Armando Castro, Hernâni Cidade e João Bénard da Costa
Arranjo Gráfico de Paulo-Guilherme
O Comentário de Natália Correia
Esta Arte de Furtar com todos os seus empolamentos moralizantes é um tratado das imperfeições que tornam possível a sobrevivência do homem. As verdades que o autor mostra em seu espelho chamando-lhes enganos, articulam ao desta minuciosa desmontagem da técnica de sobreviver, a única teoria que delas se pode extrair, uma vez exprimindo o apetitoso limão barroco dos protestos morais: É pelas unhas que o homem sobrevive.
Ai de quem tropeçar na rasteira dos conselhos hipócritas que o autor passa ao educando, cortando as unhas que vedam os tesouros do céu! Cairá o ingénuo nas garras do subtil tratadista, o maior rapinante de quantos desmerece em seu manual, porquanto quer privar os incautos dos orgãos de adaptação à vileza de um mundo fundado pelo não menos larápio Adão, por sua vez discípulo do divino progenitor que o iniciou na arte do latrocínio , surripiando-lhe uma costela para lhe dar uma companheira, instituindo, través do furto, o princípio da sociabilidade. È, por conseguinte, elementar a conclusão de que o homem convive porque é roubado e não é outro o conteúdo desta eufémica Arte de Furtar que nas suas entrelinhas se confessa lúcida e profícua “arte de viver”.
Esta Arte de Furtar com todos os seus empolamentos moralizantes é um tratado das imperfeições que tornam possível a sobrevivência do homem. As verdades que o autor mostra em seu espelho chamando-lhes enganos, articulam ao desta minuciosa desmontagem da técnica de sobreviver, a única teoria que delas se pode extrair, uma vez exprimindo o apetitoso limão barroco dos protestos morais: É pelas unhas que o homem sobrevive.
Ai de quem tropeçar na rasteira dos conselhos hipócritas que o autor passa ao educando, cortando as unhas que vedam os tesouros do céu! Cairá o ingénuo nas garras do subtil tratadista, o maior rapinante de quantos desmerece em seu manual, porquanto quer privar os incautos dos orgãos de adaptação à vileza de um mundo fundado pelo não menos larápio Adão, por sua vez discípulo do divino progenitor que o iniciou na arte do latrocínio , surripiando-lhe uma costela para lhe dar uma companheira, instituindo, través do furto, o princípio da sociabilidade. È, por conseguinte, elementar a conclusão de que o homem convive porque é roubado e não é outro o conteúdo desta eufémica Arte de Furtar que nas suas entrelinhas se confessa lúcida e profícua “arte de viver”.
Ilustrações na página 1
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