Antologia do Conto Abominável
Selecção, tradução e notas de Aníbal Fernandes
Prefácio de Vitor Silva Tavares
Capa e orientação gráfica de Carlos Fernandes
Autores e contos:
Edgar Allan Poe – Hop-FrogAmbrose Bierce – Óleo de Cão
Léon Bloy – O Fim do Don JuanOctave Mirbeau – As Bocas Inúteis
Jean Richepin – DeshoulièresAlphonse Allais – Uma Farsa MaldosaMarcel Schwob – Os Sem-FronhaEdward White – LukunduMedeiros e Albuquerque – O Soldado JacobGaston Leroux – Uma História de Apavorar
Heins Hans Ewers – “Salsa” em GranadaMaurice Renard – A Borboleta da MorteGuillaume Apollinaire – O Rabichão e o Talião
Monteiro Lobato – O Bugio Moqueado
Richard O´Connel – A Caça do General ZaroffDino Buzzati – Não Esperavam Outra CoisaMarcel Béalu – Morta Antes do TempoThomas Owen – Tu és Poeira...Tennessee Williams – O Maçagista NegroClaude Seignolle – Um Monstro Alugado ao Quarto de HoraIngmar Bergman – Recordações de Infância de Jack o EstripadorBoris Vian – As FormigasRichard Matheson – Diário de um MonstroDonald Westlake – Numa Ilha DesertaBelen – Amor de Autómato
Arrabal – Dois LabirintosJúlio Moreira – O Menino Septentrião
Três Advertências e um Adjectivo
Porque à maior força do abominável convém o círculo rápido que o aprisiona inteiro sem a oportunidades para as cicatrizes dos prolongamentos ausentes, contrai-se a antologia ao domínio do conto. Na decisão ficam todavia excluídos alguns representantes notáveis do abominável: refiro-me em especial a Lautréaumont, ao D. A. F. de Sade de alguns excessos nos 120 Dias de Sodoma; refiro-me ainda ao Céline, ao Cendrars, ao Faulkner – a muitos outros, sei lá -, ao caso recente do polaco Jerzy Kosinsky; nas letras lusas a um ou outro episódio possível de isolar na torrente inesgotável do Camilo.
Porque à estrutura da antologia não ajuda um vácuo de quinhentos anos, abre-se a recolha em Edgar Poe, esquecendo voluntariamente o conhecido lance de Roussillon e Guardastagne que Boccacio inclui no seu Decameron e serve a linha defendida na selecção.
Para além das possíveis omissões que, de importantes, revelem o desconhecimento do antologiador, outras, ausências conscientes, todavia férteis em abominável, podem resultar da exigência imposta de um mínimo de elegância formal (um caso é O Defundo do brasileiro Thomaz Lopes, outro o Irish Stew do flamengo Jean Ray), ou então pecadilho encontrado na planificação do conto (neste caso está exclusão de Medeia de Alphonse Séché, de O Relógio de Wally Hunter, ou mesmo da Brincadeira de Outubro, de Bardbury, de resto de um autor as mais das vezes talentoso, por diversas ocasiões excelente).
*
Abominável: adjectivo que o dicionário dá por originário do latim (abominabilis), significando “que excita a aversão, o horror, ou, por extensão, muito mau”. Ao caso interessa-nos a primeira opção . Nela vai inspirar-se a ideia que reúne a presente antologia de algumas dezenas de contos nas variadas tendências, buscando raízes no romantismo, no realismo, no humor-negro, no fantástico, no surreal, na ficção-científica, porém irmanados pela constante que lhes vem da mesma forma de protesto: uma provocação dirigida com maior ou menor eficácia aos centros que em nós desencadeiam a repulsa física, o abalo de que se tem por regras primárias na moral estabelecida, a prática da crueldade à gama elevada da especialidade, a sugestão das formas singulares da montruosidade.Aníbal Fernandes
Porque à maior força do abominável convém o círculo rápido que o aprisiona inteiro sem a oportunidades para as cicatrizes dos prolongamentos ausentes, contrai-se a antologia ao domínio do conto. Na decisão ficam todavia excluídos alguns representantes notáveis do abominável: refiro-me em especial a Lautréaumont, ao D. A. F. de Sade de alguns excessos nos 120 Dias de Sodoma; refiro-me ainda ao Céline, ao Cendrars, ao Faulkner – a muitos outros, sei lá -, ao caso recente do polaco Jerzy Kosinsky; nas letras lusas a um ou outro episódio possível de isolar na torrente inesgotável do Camilo.
Porque à estrutura da antologia não ajuda um vácuo de quinhentos anos, abre-se a recolha em Edgar Poe, esquecendo voluntariamente o conhecido lance de Roussillon e Guardastagne que Boccacio inclui no seu Decameron e serve a linha defendida na selecção.
Para além das possíveis omissões que, de importantes, revelem o desconhecimento do antologiador, outras, ausências conscientes, todavia férteis em abominável, podem resultar da exigência imposta de um mínimo de elegância formal (um caso é O Defundo do brasileiro Thomaz Lopes, outro o Irish Stew do flamengo Jean Ray), ou então pecadilho encontrado na planificação do conto (neste caso está exclusão de Medeia de Alphonse Séché, de O Relógio de Wally Hunter, ou mesmo da Brincadeira de Outubro, de Bardbury, de resto de um autor as mais das vezes talentoso, por diversas ocasiões excelente).
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Abominável: adjectivo que o dicionário dá por originário do latim (abominabilis), significando “que excita a aversão, o horror, ou, por extensão, muito mau”. Ao caso interessa-nos a primeira opção . Nela vai inspirar-se a ideia que reúne a presente antologia de algumas dezenas de contos nas variadas tendências, buscando raízes no romantismo, no realismo, no humor-negro, no fantástico, no surreal, na ficção-científica, porém irmanados pela constante que lhes vem da mesma forma de protesto: uma provocação dirigida com maior ou menor eficácia aos centros que em nós desencadeiam a repulsa física, o abalo de que se tem por regras primárias na moral estabelecida, a prática da crueldade à gama elevada da especialidade, a sugestão das formas singulares da montruosidade.Aníbal Fernandes
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