Wednesday, June 20, 2007

Origem e atribulações dos textos por isso mesmo malditos nos tempos do fascismo

Em jeito de introdução ao livro de Luiz Pacheco, assim são apresentados (com o mesmo título deste post) os escritos que compõem Textos Malditos:


I – O Libertino passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor

Escrito em Braga na data indicada, ciosamente resguardado durante anos, vencida a barreira do falso pudor lusitano, lido em várias sessões privadas do ano de 1969; 1.ª edição, com «hors-text» de Carlos Ferreiro e posfácio de Júlio Moreira, Janeiro de 1970, esgotada e proibida em Fevereiro-Março do mesmo ano; 2.ª edição, em «stencyl», clandestina, em Luanda; 3.ª edição, semi-clandestina mas vendeu-se à brava, Dezembro de 1972, esgotada.

II – Porto-Lisboa, a pedir esmola

No Verão de 1973, notando que tão queridos Camaradas seus das Letras, como Fernando Namora, Alberto Ferreira, Óscar Lopes, Alexandre Babo e Urbano Tavares Rodrigues se passeavam Mundo fora, pelo Expresso-do-Oriente e, até, pelo Transiberiano, e logo nos vinham relatar, em livro ou crónica, ou depois crónicas em livro, suas interessantes peregrinações, Luiz Pacheco propôs e pediu a José Saramago que o deixasse publicar no «Diário de Lisboa» suas digressões. Assim nasceu a série Viagens Muitas Viagens, toda ela inédita, pois a primeira crónica foi cortada e mau grado pedidos e reclamações na Censura assim ficou por um coronel de merda. O misterioso é onde estaria a perigosidade de texto tão banal. Alguém percebe?

III – Os Doutores, a Salvação e o Menino

Publicado com o título «História Antiga e Conhecida», em 1946, no volume colectivo «Bloco».
Por denúncia de um bufo, Jorge Pelayo, a quase totalidade da edição foi apreendida na tipografia. 2.ª edição, em «stencyl», já com o título modificado e uma capa impressa, com um comentário(1951), distribuição particular. Novamente lançado, em «Crítica de Circunstância», 1966, pela Ulisseia. Edição proibida aproximadamente um mês após o lançamento, mas já quando estava distribuída, vendida e posta a bom recato.
Deste texto, Mário Cesariny de Vasconcelos arranjou uma pecita, publicada pela Minotauro, em 1964, «Um Auto para Jerusalém», e também pouco depois proibida. Levada à cena em 1975 pelo «Grupo dos 7», dirigido por João d´Ávila.

IV – Côro de Escarnho e Lamentação dos Cornudos em volta de S. Pedro

Publicado na «Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica», organizada por Natália Correia (edição de Fernando Ribeiro de Mello – Afrodite, 1965), apreendida e processada (uma, pelo menos, edição clandestina posterior, em 1970). Julgamento no Tribunal Plenário, 1970, e condenação dos sete réus (o oitavo tinha-se marimbando para tudo, falecendo).

V – O Sade Aqui Entre Nós

Publicado na edição de A Filosofia na Alcova, de Sade, por Fernando Ribeiro de Mello – Afrodite, 1966. Apreensão, processo, condenação no Plenário, 1968, por abuso de liberdade de Imprensa, incriminação agravada em relação a Luiz Pacheco por «insultos à magistratura» na pessoa de um refinado fascista e pulha chamado Arelo Manso, que julgara o dito Pacheco em 1960.

VI – Depoimento duma Angolana

Texto que se faz referência n´O Libertino. Lançado em «stencyl», em 1961, poucos meses depois do início da guerra em Angola, por Luiz Pacheco, com a colaboração de António Colaço. O texto é da autoria de Maria Alice Veiga Pereira, sendo os dois parágrafos finais de Alfredo Margarido.

VII – Crítica de Alexandre Pinheiro Torres ao «Libertino»

Crítica de Alexandre Pinheiro Torres para publicação no suplemento literário do «Diário de Lisboa» cortada pela Censura. Uma carta veemente de A P. T., enviada de Inglaterra onde, em Cardiff, era professor universitário, protestando e ameaçando de fazer barulho com o caso nos jornais ingleses levou, depois, a Censura a autorizar a publicação do texto, sem quaisquer cortes.

NOTA: Exceptuando a dedicatória do texto «O Sade Aqui Entre Nós», à qual o autor achou por bem acrescentar em 1977 «e continua na mesma», todos os textos agora reunidos estão rigorosamente conforme as edições anteriores.