Cara Lh Amas, de E. M. de Melo e Castro
(edição de Abril de 1974)
Cara Lha Amas, poemas eróticos e sarcásticos 1964/1975
Capa e arranjo gráfico: Edições Afrodite
Arte final: Nuno Amorim
Edições e direitos: Edições Afrodite
Na badana
Enquanto o homem, comprimido no cidadão é corpo, não será esse homem nem homem nem cidadão.
Neste solo onde há séculos vigora a máquina censória, inquisitorial, sinistra, criou-se em cada cidadão, por dentro da epiderme, do tutano ou da alma, (para quem quiser ter um), um vigilante, um polícia, um informador, um inibido ser que a si se castra e aos outros tenta triturar, se pode.
Num país entre todos excelente, ganhou foros de excelência «a miséria sexual». E os mentores, os censores, os moralistas, os guardas da escuridão e do açaime, devotamente pregam abstinência para moldarem as normas da opressão.
Opressão sexual, repressão política. Como pode ser livre no pão e na palavra quem ao próprio corpo ignora, avilta ou menospreza?
A poesia erótica, essa que os sistemas pretendem sufocar, aponta para uma forma superior de liberdade. Incide na coragem de não mais reprimir a afirmação do corpo, inaugura o seu discurso com o ataque ao tabus. E fala do amor como se em cada verbo vivesse a integral partilha dos corpos.
A poesia erótica de E. M. de Melo e Castro canta a anti-renúncia, canta um compromisso livremente assumido. Situa-se para além da ordem, tanto na ordem repressiva, convencional, abstracta, despótica, como da ordem imposta à consumação sexual. (Donde, a incriminação do autor, por causa de textos, em Tribunal Plenário, no ano da graça de 1970). É a exaltação experimental, a negação do a priori que envenena as relações humanas, a transposição artística duma vivência pela sexualização dum acto de fala.
Por isso estes poemas são um apelo à coragem, uma concepção revolucionária do corpo, uma reivindicação de vida, contra o obscurantismo que nunca tolerou a liberdade dos corpos que se celebram, nem mesmo quando se reveste de paternalismo cultural.
Capa e arranjo gráfico: Edições Afrodite
Arte final: Nuno Amorim
Edições e direitos: Edições Afrodite
Na badana
Enquanto o homem, comprimido no cidadão é corpo, não será esse homem nem homem nem cidadão.
Neste solo onde há séculos vigora a máquina censória, inquisitorial, sinistra, criou-se em cada cidadão, por dentro da epiderme, do tutano ou da alma, (para quem quiser ter um), um vigilante, um polícia, um informador, um inibido ser que a si se castra e aos outros tenta triturar, se pode.
Num país entre todos excelente, ganhou foros de excelência «a miséria sexual». E os mentores, os censores, os moralistas, os guardas da escuridão e do açaime, devotamente pregam abstinência para moldarem as normas da opressão.
Opressão sexual, repressão política. Como pode ser livre no pão e na palavra quem ao próprio corpo ignora, avilta ou menospreza?
A poesia erótica, essa que os sistemas pretendem sufocar, aponta para uma forma superior de liberdade. Incide na coragem de não mais reprimir a afirmação do corpo, inaugura o seu discurso com o ataque ao tabus. E fala do amor como se em cada verbo vivesse a integral partilha dos corpos.
A poesia erótica de E. M. de Melo e Castro canta a anti-renúncia, canta um compromisso livremente assumido. Situa-se para além da ordem, tanto na ordem repressiva, convencional, abstracta, despótica, como da ordem imposta à consumação sexual. (Donde, a incriminação do autor, por causa de textos, em Tribunal Plenário, no ano da graça de 1970). É a exaltação experimental, a negação do a priori que envenena as relações humanas, a transposição artística duma vivência pela sexualização dum acto de fala.
Por isso estes poemas são um apelo à coragem, uma concepção revolucionária do corpo, uma reivindicação de vida, contra o obscurantismo que nunca tolerou a liberdade dos corpos que se celebram, nem mesmo quando se reveste de paternalismo cultural.
<< Home