Thursday, December 18, 2008

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente, de Natália Correia

(edição de Novembro de 1981)


Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente, peça em três actos

Capa e apontamentos cénicos: Paulo-Guilherme d´Éça Leal
Apontamentos sobre a encenação: Jacinto Ramos
Arranjo gráfico: José Marques de Abreu
Ilustrações: Ângelo de Sousa, Carlos Calvet, Cruzeiro Seixas, Francisco Relógio, Júlio Resende e Lima de Freitas

Desta edição foi feita uma tiragem especial de 1500 exemplares encadernados, gravados em baixo relevo a ouro, prata e preto, com sobrecarga de acetato e resguardo de papel cristal nas ilustrações, todos numerados pelo editor de 0001 a 1500 e assinados pela autora.

Na badana

Para quem conhece o anterior teatro de Natália Correia. Esta peça constitui simultaneamente uma confirmação e uma surpresa. Confirmação, antes de mais, da sua empolgante força de criadora dramatúrgica e do seu incomparável dom para conferir, em termos de teatro, a dimensão do mito aos temas em que toca, aos assuntos que assume, às figuras em que desdobradamente encarna a sua própria natureza dilemática. Mas surpresa, também, e não pequena, porque se verifica, nesta peça, um significativo alargamento do sei habitual pendor de expressão barroca até àqueles extremos confins em que o neoclássico e o romântico, por mais opostos ou distantes que sejam, acabam por conviver numa inesperada fronteira. E isto mesmo representa um profundo entendimento, não só da obra e da personalidade de Camões, mas também do fecundo sincretismo da sua mesma fortuna póstuma. Equidistante, pela forma e pela estrutura, de certos avatares do teatro neoclássico e de certas obsessões do drama histórico de cepa romântica, esta peça de Natália Correia, sem tão-pouco abdicar do intrínseco barroquismo da sua autora, teria sido, em 1980, sobre o tablado de um Teatro Nacional que pudesse a um tempo ser «nacional» e ser «teatro», a mais condigna homenagem da criatividade contemporânea ao nosso maior poeta de todos os tempos, no 4.º centenário da sua Morte. Assim o não quis, no entanto, o sombrio e sinistro soba que «reinou», em 1980, na esfera oficial da cultura portuguesa.

David Mourão Ferreira