Luiz Pacheco escreveu - II
“Voltando ao Ribeiro de Mello: ele já anda a preparar uma antologia de prosa erótica e na sexta que passei em Lisboa veio cá a casa comprar-me tudo o que houvesse meu. A Irene não vendeu, porque não percebeu o que ele queria. E esta m/ súbita edição de OS NAMORADOS também se destinou a evitar que ele os meta na tal antologia, sem me dar cavaco. E requeimando o texto, que projectava refundir para os Textos Locais.
Gostaria de fazer o tal prefácio, que seria muito menos sobre o SADE que sobre o David-anti sade… E a oferta é tentadora. Remetendo-o (ao Mello) para si e Edite, creio no entanto ter procedido da melhor maneira. Da que, agora, me parece honesta e legítima. Declarando à Natália, não por quixotismo mas por camaradagem desafiante, que estaria com ela no que houvesse com ela em relação à anterior antologia (onde colaborei a brincar e só por causa dela – em atenção a muitas outras coisas, por ex. o crianço meu que ela tem lá em casa) julgo manter uma atitude de coerência para a qual acato o v/ conselho de amigos mas não me era exigida a v/ digamos autorização. A escalada, de que falo ao Mello (aqui entre nós, a pressa fabricante deste tipo, uma espécie de Aguiar & Dias dos erotismo clássicos, aliás, foi o Vítor mesmo que me disse que a tradução do Kama Sutra era abominável e pelo preço um crime de pura especulação; não assim com a Antologia, que me cheira edição de nível) tencionava fazê-la com os Textos Locais.”
Excerto de carta (sem data) de Luiz Pacheco a Vítor Silva Tavares.
“Mas, podia deixar escapar esta réstea de liberdade que é a Afrodite, onde se escreve aquilo que se quer? Não tenho pelo Ribeiro de Mello nenhuma simpatia especial, e até fortes suspeitas das motivações íntimas da sua actividade editora. Mas o certo o certo é que ele fez em poucos meses o que eu não consegui em vinte anos (nota, não editaria o Kama Sutra como ele, nem iria naquela velocidade em que ele vai; mas mal ou bem, como eu não gostaria de fazer mas fazendo como pode, o FRM está desempenhar uma função). E, sintoma alegre: isso indica falhas no sistema; tipografias com mais tomates; dinheiro a sério; uma equipa. Um entusiasmo inegável. Por tudo, ele merece ser ajudado; merece que se lhe corresponda à coragem com coragem e ao atrevimento com mais atrevimento. Foi o que fiz. Nem estou arrependido. Mas chega uma hora de avaliar as consequências, prever as ressacas provindo dos nossos actos.”
Excerto de carta (sem data) de Luiz Pacheco a Mário Cesariny de Vasconcelos.
Gostaria de fazer o tal prefácio, que seria muito menos sobre o SADE que sobre o David-anti sade… E a oferta é tentadora. Remetendo-o (ao Mello) para si e Edite, creio no entanto ter procedido da melhor maneira. Da que, agora, me parece honesta e legítima. Declarando à Natália, não por quixotismo mas por camaradagem desafiante, que estaria com ela no que houvesse com ela em relação à anterior antologia (onde colaborei a brincar e só por causa dela – em atenção a muitas outras coisas, por ex. o crianço meu que ela tem lá em casa) julgo manter uma atitude de coerência para a qual acato o v/ conselho de amigos mas não me era exigida a v/ digamos autorização. A escalada, de que falo ao Mello (aqui entre nós, a pressa fabricante deste tipo, uma espécie de Aguiar & Dias dos erotismo clássicos, aliás, foi o Vítor mesmo que me disse que a tradução do Kama Sutra era abominável e pelo preço um crime de pura especulação; não assim com a Antologia, que me cheira edição de nível) tencionava fazê-la com os Textos Locais.”
Excerto de carta (sem data) de Luiz Pacheco a Vítor Silva Tavares.
“Mas, podia deixar escapar esta réstea de liberdade que é a Afrodite, onde se escreve aquilo que se quer? Não tenho pelo Ribeiro de Mello nenhuma simpatia especial, e até fortes suspeitas das motivações íntimas da sua actividade editora. Mas o certo o certo é que ele fez em poucos meses o que eu não consegui em vinte anos (nota, não editaria o Kama Sutra como ele, nem iria naquela velocidade em que ele vai; mas mal ou bem, como eu não gostaria de fazer mas fazendo como pode, o FRM está desempenhar uma função). E, sintoma alegre: isso indica falhas no sistema; tipografias com mais tomates; dinheiro a sério; uma equipa. Um entusiasmo inegável. Por tudo, ele merece ser ajudado; merece que se lhe corresponda à coragem com coragem e ao atrevimento com mais atrevimento. Foi o que fiz. Nem estou arrependido. Mas chega uma hora de avaliar as consequências, prever as ressacas provindo dos nossos actos.”
Excerto de carta (sem data) de Luiz Pacheco a Mário Cesariny de Vasconcelos.
Cartas em: Pacheco Versus Cesariny, Folhetim de Ficção Epistolográfica, Editorial Estampa, 1974.
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