Acerca da edição de 1966 da Filosofia na Alcova - Parte V
Aos dois prefácios seguiam-se 188 páginas de “filosofia” e de “alcova” interrompidas pelo panfleto célebre – Franceses, mais um esforço se quereis ser republicanos – que Sade, sem saber onde incluí-lo, incluira onde tinha podido e calhado, para dizer tudo a martelo no Quinto Diálogo. A edição omitia o título alternativo da obra, Les Instituteurs Immoraux, que tão bem reflecte aquela tentativa de educar na luxúria, de contra–educar uma jovem através da pedagogia da perversão ou, utilizando uma palavra preferida por um comentador de Sade, um pornograma que percorre a temática indissociável de uma prática generalizada da transgressão.
Mme. Saint-Ange, mulher atraída por uma incasável curiosidade erótica, “já fodida por mais de dez ou doze mil indivíduos”, propõe ao cavaleiro Mirvel, seu irmão, e a Dolmancé, libertino empedernido, que em conjunto levem a cabo a educação de Eugénie de Mistival, ingénua de quinze anos. Apenas num dia de diálogos seguidos de exemplificação, a jovem aluna mostra-se tão hábil a assimilar o catecismo transgressor que, no final do livro, declara: “Já sou ao mesmo tempo incestuosa, adúltera e sodomita, e tudo isto numa rapariga que só hoje foi desflorada...”
“Uma rapariga bonita só deve preocupar-se em foder e não em gerar”, diz Dolmancé, o principal teórico deste curso. “Vamos passar por cima de tudo quanto respeita ao chato mecanismo da povoação para nos agarrarmos principalmente às volupias libertinas cujo espírito nada tem a ver com povoar”. “Disseste-lhes que foder era pecado quando consiste, afinal, no mais delicioso acto da vida”: para resumir, o marquês de Sade; é realmente, como Alexandrian disse, um “libertador do amor”.
A Filosofia na Alcova vendeu-se durante alguns dias, não excessivamente exposta nas livrarias onde foi distribuída, as mais das vezes comprada com voz sumida, como se estivesse em causa uma daquelas obras que o livreiro ia, se fosse, “buscar lá trás” e trazia “pronta” de embrulho feito – cultivada encenação de mistério, deferência, confiança, entendimento entre os dois lados do balcão contra o poder confiscador. Até que...
Mme. Saint-Ange, mulher atraída por uma incasável curiosidade erótica, “já fodida por mais de dez ou doze mil indivíduos”, propõe ao cavaleiro Mirvel, seu irmão, e a Dolmancé, libertino empedernido, que em conjunto levem a cabo a educação de Eugénie de Mistival, ingénua de quinze anos. Apenas num dia de diálogos seguidos de exemplificação, a jovem aluna mostra-se tão hábil a assimilar o catecismo transgressor que, no final do livro, declara: “Já sou ao mesmo tempo incestuosa, adúltera e sodomita, e tudo isto numa rapariga que só hoje foi desflorada...”
“Uma rapariga bonita só deve preocupar-se em foder e não em gerar”, diz Dolmancé, o principal teórico deste curso. “Vamos passar por cima de tudo quanto respeita ao chato mecanismo da povoação para nos agarrarmos principalmente às volupias libertinas cujo espírito nada tem a ver com povoar”. “Disseste-lhes que foder era pecado quando consiste, afinal, no mais delicioso acto da vida”: para resumir, o marquês de Sade; é realmente, como Alexandrian disse, um “libertador do amor”.
A Filosofia na Alcova vendeu-se durante alguns dias, não excessivamente exposta nas livrarias onde foi distribuída, as mais das vezes comprada com voz sumida, como se estivesse em causa uma daquelas obras que o livreiro ia, se fosse, “buscar lá trás” e trazia “pronta” de embrulho feito – cultivada encenação de mistério, deferência, confiança, entendimento entre os dois lados do balcão contra o poder confiscador. Até que...
(continua)
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