Thursday, January 10, 2008

Rol de Cornudos, de Camilo José Cela

(edição de Março de 1978)



Tradução de José Martins Garcia
Capa: Cid
Colecção Autores I
Edição e arranjo gráfico de F. Ribeiro de Mello/Edições Afrodite

Na contracapa

ROL DE CORNUDOS é um livro invulgar, talvez único no âmbito da literatura espanhola, um livro que só o génio, a audácia e a prodigiosa erudição de Cela podiam realizar. ROL DE CORNUDOS apresenta, à laia de dicionário – para facilidade de manejo e como garantia de rigor científico –, uma impressionante galeria de cidadãos vítimas mais ou menos conscientes da instabilidade sentimental das esposas. Os protagonistas são classificados em tipos e subtipos, com as respectivas características minuciosamente definidas e estudadas. Com a paciência, a tenacidade e a assombrosa documentação com que Lineu empreendeu a classificação de outras espécies zoológicas menos nobres, Camilo José Cela lança-se à tarefa de catalogar a selvática abundância de bravos ou mansos, baseando-se em textos clássicos, na abundante literatura oral ou num esforço obstinado de confirmação original. Só ficam fora do catálogo algumas variedades atípicas e extravagantes que agora começam a aflorar sem caracteres definidos, porém com exemplar descaramento. Logicamente, um livro como este, baseado na observação directa e pujante da realidade, nunca poderia esgotar a matéria. ROL DE CORNUDOS, como todos os grandes livros, pode ser abordado pelo leitor segundo variadíssimas perspectivas. Desopilante, altamente divertido, com a imensa graça de que só Cela é capaz, nele transparece sempre, sob o sarcasmo quevedesco, uma ternura subterrânea, um afã quase humilde de compreensão para com uma casta de marginalizados que em nenhuma ideologia se enquadram, sendo além disso, dadas as características específicas do caso, de mui difícil homologação sindical.
ROL DE CORNUDOS será uma revelação insuspeitada depois de vários séculos de inflação calderoniana. Abundantíssima, riquíssima quanto a variedades, diversificada em atitudes e intenções, trata-se duma fauna real que o espanhol comum associava sempre a castas hiperbóreas e a outras monstruosidades sentimentais.