Friday, January 28, 2011

O Encoberto, de Natália Correia

(edição de 1977)


Esta edição reproduz rigorosamente o texto da primeira publicada em 1969 e proibida de circular pela censura então vigente. A representação agora em cena de “O Encoberto” também respeita integralmente este texto.


Título – O Encoberto – Teatro
Autor – Natália Correia
Colecção – Autores II
Capa – Nuno Amorim
Fotos da Representação – Nuno Calvet
Edição e Arranjo Gráfico – Edições Afrodite
Copyright – Natália Correia / Ed. Afrodite

Na Contracapa:

Esta peça foi escrita sob o pesadume do regime fascista que a proibiu de subir à cena e mesmo de circular em livro. Não logrou porém a interdição impedir que, pelos canais da divulgação clandestina “O Encoberto” fosse ganhando foros de clássico da dramaturgia moderna. Estudantes estrangeiros dedicam-lhe teses e passagens do seu texto epigrafam estudos sebásticos.


Em “O Encoberto” a autora desvia-se do enfoque habitual do mito de D. Sebastião, desdenhando a circunscrição histórica que o aperta numa data. O reinado filipino é só uma camada da estrutura dramática que se dilui na intemporalidade do mito de que é apoio antitético.


A composição enevoada do mito, configurada na manhã de nevoeiro que será rasgada pela visão reluzente do Salvador é a densidade psicológica de um povo em situação omissa. Nesta se funda a acção da peça, na qual todas as personificações gravitantes de D. Sebastião são fantasmas por alucinante arrastamento.


Neste campo de apetência subjectiva do povo português Natália Correia imprimiu uma “actualidade contínua” ao seu Encoberto. Seja qual for a época em que expluda a crise de omissão nacional, esta plasma-se no sonho espectante da vinda do Desejado.


Para acalentar a ressurgência do mito estava particularmente destinado este nosso tempo de hecatombe histórica. O afundamento de séculos de vida nacional, acutilada por uma cadeia de desestabilizações, algumas delas visando o colapso da independência nacional, viria repor no horizonte da persistente vocação sebástica a estrela absurda do Rei Fantasma. É de facto impressionante que num texto de resistência à “ocupação fascista” a autora tenha visionado uma situação de fim que viria a produzir-se na sequência de uma revolução conduzida por forças adversas aos imperativos nacionais e na qual dramaticamente se aclimata a fisionomia que imprimiu a D. Sebastião.


Merece também um curioso destaque ter Natália Correia intencionado no desfecho da sua peça a mundialização do mito sebástico. Dir-se-ia que a autora vaticinava há nove anos vir a converter-se Portugal num ponto de agudização da crise ocidental promotora de um sentimento escatológico que vai buscar esperanças à reserva messiânica nomeadamente no culto dos ovnis.