Thursday, July 17, 2008
O Manual dos Inquisidores, de Nicolau Emérico
Tradução e recolha de textos de Manuel João Gomes
Comentários de:
Manuel João Gomes
Fernando Luso Soares
D. António Ferreira Gomes
Francisco Salgado Zenha
Padre José da Felicidade Alves
Frisos Ilustrativos de:
Eduardo Batarda
Carlos Ferreiro
Nuno Amorim
Diogo Vieira
Arranjo gráfico do volume de José Marques de Abreu
Nota de introdução:
Neste volume se divulgam alguns textos fundamentais para o estudo da Instituição Inquisitorial. Na base está o texto do Manual dos Inquisidores, cuja primeira edição impressa é de 1578 (mas que dois séculos antes já célebre e celebrado) e se nos apresenta como o que há de mais importante em toda a literatura jurídica que vigorou na Península. Inicialmente é fruto do trabalho de Frei Nicolau Emérico (1320 – 1399) da Ordem dos Pregadores e grande Inquisidor de Aragão, onde conseguiu fama de grande competência no assunto e onde começou a construir o seu Directorium Inquisitorium, obra inesgotávelmente exaustiva: as sucessivas quatro edições do Directorium provam quanto ele era útil e utilizado.
Directamente da penúltima edição (1607) se seleccionaram e traduziram os textos que vão na 2.ª parte deste volume e pretendem dar uma ideia, quanto possível completa, do código criminal em questão.
Quanto a este primeiro texto, necessário se torna dizer o seguinte: é a nossa versão de um texto francês com a data de 1702¹, com esta história: tendo o Marquês de Pombal, com a ajuda da Inquisição Portuguesa (na mão dos Dominicanos) feito executar um jesuíta de nome Padre Malagrida, resolveram os jesuítas franceses (então ideológicos inimigos dos dominicanos jansenistas) provar a injustiça do acórdão que levou à fogueira o confrade. Fizeram-no, socorrendo-se do texto, do Directorium Inquisitorium de Emérico, que reescreveram resumindo e à sua maneira, para servir fins evidentemente polémicos.
Isso explicará a forma que este Manual apresenta: é um Abrejé que inventa a sua forma própria, ora transcrevendo, ora citando, ora rodeando e adaptando a escrita do dominicano Emérico. Evita-se o tom canonista da edição, espanhola, em proveito de uma forma mais explicativamente didáctica. O autor francês fará mesmo a omissão de certos assuntos; há muitas reticências a até a ausência de referências a capítulos inteiros. Sem falarmos das adaptações bastante livres de muitas expressões típicas, como se pode concluir da comparação de trechos.
1 - Publicado na revista NOVEAU COMMERCE (cahier 17, Automne 1970) daí se traduziu a nossa versão.
Montras Afrodite
Na Livraria Lumiére (Porto), encontramos à venda, a bons preços, exemplares da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica dos Séc XVIII e VXI e da edição Antologia de Poesia Latina Erótica e Satírica, entre outros, que se apresentam ao longo da página principal do blog:
Antologia de Poesia Latina, Erótica e Satírica
Grande Livro de S. Cipriano ou Tesouros do Feiticeiro
Antologia do Conto Fantástico Português
Pinto, Fernão Mendes - Peregrinação
Engels, Frederico - Anti-Duhring ou A Subversão da Ciência pelo Sr. Eugénio Duhring
O livreiro antiquário Miguel de Carvalho (Coimbra), tem na sua página uma montra dedicada às Edições Afrodite. Na busca deve-se procurar em Editor, por Afrodite, e surgem edições de As 50 Posições - Manual prático de mesa de cabeceira, O Supermacho, de Alfred Jarry ou um exemplar de O Sexo na Moderna Ficção Cinetífica (Antologia de autores fanceses).
Na Livraria Artes e Letras (Lisboa) vendem-se um raro exemplar de As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, Lewis Carrol, 1976, 1.ª edição, ou um exemplar da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (dos cancioneiros medievais à actualidade), de Natália Correia, com ilustrações de Cruzeiro Seixas, 1966.
Na Livraria Esperança (Funchal), destacamos a edição Revolucionários e Querubins de José Martins Garcia, 1977, e o Uso e o Abuso de Armando Silva Carvalho, 1976.
Tuesday, July 01, 2008
Fotografia com Fernando Ribeiro de Mello
Fotografia retirada da Fotobiografia de Natália Correia:
1968, Livraria Quadrante, lançamento de A Madona: Fernando Ribeiro de Mello (então editor da Afrodite) e Helena Cantos. À direita, Antónia Skapinakis, Rosy e Branca Miranda Robdrigues.
A Defesa do Poeta
“A Natália tinha preparado um texto – A Defesa do Poeta – para ler no tribunal [Compus este poema para me defender no Tribunal Plenário de tenebrosa memória(…)]. Mas o Manuel João Palma Carlos, advogado dela, disse-lhe que não o fizesse. É claro que os livreiros não podiam ter um único exemplar do livro [Poesia Erótica e Satírica]. Nessa altura, tive dezenas de exemplares escondidos em minha casa, e nem o meu marido sabia disso. O Fernando Ribeiro de Mello vinha cá de vez em quando buscar alguns.”
A Defesa do Poeta
Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
dou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs em ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de paixão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever.
Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer.