Monday, February 15, 2010

Nuno Amorim na Afrodite


Publicamos mais um texto de Pedro Marques do blog Montag:


Continuando no baú da Afrodite, encontrei estas espantosas ilustrações de Nuno Amorim para a edição de O Supermacho de Alfred Jarry (1975). A influência (as hachuras nos meios tons, por exemplo) é óbvia: as bandes dessinés a preto-e-branco de Moebius, a partir de La Déviation de 1972. Em 1975 a Métal Hurlant estava ainda para ser lançada ou acabara de o ser, pelo que técnica apurada de Amorim o punha ao nível da vanguarda da BD de fantasia e FC. Não lhe calhou a Métal, mas a Visão, lançada em Portugal também nesse ano e também ela ao nível do que se fazia de mais arrojado em França, o que deixa intrigantes questões sobre o que poderia ter sido a história da BD em Portugal se tivesse havido por cá o que permitiu o fulgurante arranque daquela revista francesa. Mais amostras das ilustrações de Amorim para esta edição aqui e aqui.

Um ano mais tarde, em 1976 (e 10 anos antes de eu encontrar um exemplar no alfarrabista ao fundo das Escadinhas do Duque em Lisboa), e de novo com “arranjo gráfico” do editor Fernando Ribeiro de Mello, será de Nuno Amorim também a maior parte das ilustrações de uma das edições mais estranhas da Afrodite, uma antologia (a Afrodite “especializara-se” nestas edições antológicas, com o destaque para a Antologia do Humor Português de 1969, com uma icónica capa de Sena da Silva) d’O Sexo na Moderna Ficção Científica, título que pecava por falta de precisão pois os autores antologiados eram todos franceses (os dois nomes mais sonantes sendo Jean-Pierre Andrevon e Pierre Christin, depois o argumentista de Bilal).

Tal como na edição de Jarry, a capa parece destoar, pelo exagero cromático, da qualidade das ilustrações a preto, mas o arrojo visual da edição é inegável e um caso quase ímpar na edição de FC em Portugal (o João Seixas ou o João Barreiros poderão elaborar sobre isto muito melhor). Algumas páginas são particularmente cativantes e lembro-me da impressão que me causaram na altura. A esta distância, Nuno Amorim parece alguém em perfeita sintonia com um certo tipo de estética visual da BD desse tempo (ao seu nível, apenas me lembro, do que vi, de Carlos Zíngaro ou José Abel – desenhador de um brilhante Aux Mains des Soviets publicado pela Humanoides Associés em 1984 –, e no que à FC diz estrito respeito, de Vítor Mesquita – este mais a pender para um Druillet do que um Moebius – ou de algumas coisas de Fernando Relvas no final dos anos de 1970 e inícios de 80).


Pedro Marques

Luiz com Zê no Montag


Do blog Montag, de Pedro Marques, retirámos este interessante texto sobre Luiz Pacheco e as Edições Afrodite:


Luiz com zê

A (re)leitura recente de alguns textos das edições originais dos Textos de Guerrilha (compradas a preço de chuva na papelaria/livraria Ler ao Campo de Ourique, outrora a mesmíssima Ler que os publicara), complementada por um volume de crónicas publicado pel ’O Independente em 2004 (agora já oportunisticamente aumentado para 15 Euros e que se encontra por aí nas Feiras do Livro das estações de metro e comboio) onde está uma obra-prima da “critiquístisca” literária portuguesa, Um poeta muito famoso em Massamá (publicada em 1971, e que devia ser de leitura obrigatória), fez-me procurar por mais livros de Luiz Pacheco. Difícil tarefa agora, em hora de “canonização” na Biblioteca Nacional (que, apesar de Nacional, ou seja, de todos nós, contribuintes, não consegue fazer publicar um catálogo de exposição mais barato do que 30 Euros – valores mais altos se “leyavantaram”…), e em que os preços das suas edições originais disparam por esse mercado alfarrabista agradecido.

Foi essa busca que me fez regressar a um blogue que encontrei há uns anos e que, noto com satisfação, continua activo. Trata-se do arquivo online das edições Afrodite, no qual se continuam a encontrar verdadeiros tesouros da que foi uma das mais loucas aventuras da edição em Portugal, tendo ao leme Fernando Ribeiro de Mello, um misto e émulo devidamente excêntrico de um Maurice Girodias, um Jean-Jacques Pauvert, um Eric Losfeld ou um Barney Rosset. As comparações não são desmedidas: pelo que se pode ver, os livros da Afrodite tinham uma qualidade gráfica ímpar, que emparelhava com as ambições (essas sim, algo desmedidas, ainda que corajosas) do seu editor.
Pacheco fora colaborador pontual da Afrodite, coisa que lhe trouxera amargos antes da Revolução, pelo que esta edição de 1977 dos seus Textos Malditos (com “arranjo gráfico” do próprio editor, e onde se inclui o “infame” Libertino) parece, talvez uma devida recompensa, certamente uma prova da possível consagração que por então gozava o autor “marginal”. Surpresa para mim foram as excelentes ilustrações de Henrique Manuel (mais amostras aqui e aqui), a começar na icónica capa: é-me difícil acreditar que Pacheco tivesse algo a apontar a tanto esmero (terei de confirmar). Um daqueles livros já quase inacessíveis e que vai a caminho do panteão da edição em Portugal (não o “outro”, porque os ossos de Jorge de Sena* não iriam certamente gostar da companhia…).

* Nota: pela vigilância atenta do autor e tradutor Octávio dos Santos fui informado que, de facto, a trasladação dos restos mortais de Jorge de Sena teve como destino o Cemitério dos Prazeres (cá estamos de novo em Campo de Ourique) e não o Panteão Nacional.

Pedro Marques

Thursday, February 11, 2010

Algumas edições no Homem dos Livros


Para quem procura livros Afrodite, no site Homem dos Livros encontramos algumas edições das mais interessantes:


ARTE DE FURTAR. Anónimo do Séc. XVII . Fernando Ribeiro de Mello. Edições Afrodite. 1970. Desenhos de Eduardo Batarda. Comentários de Natália Correia, Armando Castro, Hernâni Cidade e João Bénard da Costa. Arranjo Gráfico de Paulo-Guilherme. (30 euros)

NOVA RECOLHA DE PROVÉRBIOS E OUTROS LUGARES COMUNS PORTUGUESES. Coordenação e introdução de Manuel João Gomes. Capa e ilustrações de Henrique Manuel. Fernando Ribeiro de Mello. Edições Afrodite. Lisboa. 1973. In-8.º de 385 páginas. B. (45 euros)

CARROL, Lewis. AVENTURAS DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS. Ilustrações de John Tenniel. Fernando Ribeiro de Mello. Edições Afrodite. Lisboa. 1971. In-8.º deitado de 274-I páginas. B. (65 euros)

APOCALIPSE DO APÓSTOLO JOÃO. Edições Afrodite. Fernando Ribeiro de Mello. 1972. Lisboa, Ano Internacional do Livro. In-4.º de 101-1 páginas. B.
(30 euros)


ANTOLOGIA DO HUMOR NEGRO. Fernando Ribeiro de Mello. Edições Afrodite. 1972. Prefácio de André Breton. Colaboração de António Sena. In-8.º de 454-I páginas. B.(40 euros )

ANTOLOGIA DO HUMOR PORTUGUÊS. Selecção e notas: Vergílio Martinho, Ernesto Sampaio. Prefácio, Ernesto Sampaio. Edições Afrodite. Fernando Ribeiro de Melo. Lisboa. 1969. 14,5x21 cm. XXV-III-1004-III págs. B.
"A Antologia do Humor Português contém entre outros autores: Bocage, Garrett, Camilo, Ramalho, Eça, Gomes Leal, Cesário Verde, Fialho, Teixeira-Gomes, Feijó, Sá-Carneiro, Pessoa, Almada, Miguéis, Branquinho da Fonseca, Manuel de Lima, Natália Correia, O'Neill, Mário Cesariny, António Maria Lisboa etc. Edição com desenhos originais de Carlos Ferreiro, Eduardo Batarda, João Machado e José Rodrigues. (100 euros)

ANTOLOGIA DE VANGUARDA. - 4 AUTORES DA NOVELA PORTUGUÊSA CONTEMPORÂNEA.- Sá Carneiro - Almada - Manuel Lima - Luiz Pacheco. Lisboa. Afrodite. Edição de Fernando Ribeiro de Mello. [1968 ?]. In-8º de 276-II págs. B. Edição Fora do Mercado.(65 Euros)

Textos Malditos a 250 Euros




Na Frenesi Loja, entre várias raridades à venda, esteve durante algumas semanas um especial exemplar dos Textos Malditos de Luiz Pacheco, com a chancela das Edições Afrodite. Tratava-se de um volume com anotações do autor, tendo em vista uma posterior reedição (nunca concretizada) na Contraponto.

Alguém já desembolsou 250 Euros e tem agora um exemplar único na sua biblioteca.