Monday, July 25, 2011

Anuário do Futebol





Em 1983 Fernando Ribeiro de Mello foi responsável pela publicação de um completo Anuário do Futebol Português e Europeu 1983/84. Não teve a chancela das Edições Afrodite mas da Renovação, que tinha como editor responsável, J. Alvim de Carvalho. Para este trabalho, Fernando Ribeiro de Mello contou com a colaboração dos melhores jornalistas desportivos e destacadas personalidades da época (ver ficha técnica), resultando todo o volume numa edição de grande qualidade.



Ficha Técnica:



Director: Fernando Ribeiro de Mello
Director-Adjunto: J. Alvim de Carvalho
Coordenador: Neves de Sousa
Consultores Técnicos: Mário Zambujal, Neves de Sousa



Redactores: Carlos Morgado, Costa Martins, Cruz dos Santos, Daniel Reis, David Sequerra, Eugénio Queirós, Filomena Araújo, Henrique Parreirão, Ilídio Trindade, José Manuel Fernandes Sousa, José Manuel Freitas, José Manuel Moroso, Neves de Sousa, Manuel Neto, Orlando Dias Agudo, Ribeiro Cristóvão, Rui Cabral, Wilson Brasil.



Repórteres Fotográficos: António Capela, Bruno Neves, Lobo Pimentel Jr., Óscar Saraiva



Convidados Especiais: Albertino Antunes, António Ramalho Eanes, António Reis, David-Mourão Ferreira, Fernando Assis Pacheco, João Palma-Ferreira, Joaquim Letria, Lacerda e Melo, Manuel Marques, Mário Soares, Monge da Silva, Nuno Rocha, Pacheco de Andrade, Santos Ruivo, Victor Direito.



Ilustradores: António, Augusto Cid, José de Lemos, Victor Ribeiro.

Capa: Victor Ribeiro

Arranjo Gráfico: Daniel Martins


Gente Fala de Futebol: Afonso Cautela, Afonso Pinto de Magalhães, Agapito Pinto, Amadeu Lopes Sabino, Amália Rodrigues, Ângelo Correia, António, António Alçada Baptista, António Baptista Fernandes, António Carvalho, António Gentil Martins, António Gomes, António Leal Lopes, António Paredes, António Valdemar, António Vitorino d´Almeida, Armado Marques, Artur Agostinho, Artur Varatojo, As Doce, Augusto de Carvalho, Augusto Cid, Aventino Teixeira, Beatriz Costa, Camilo de Oliveira, Carlos do Carmo, Carlos Cruz, Carlos Lopes, Carlos Plantier, Carlos Vargas, Cecília Barreira, Diogo Leite de Campos, Diogo Saraiva e Sousa, Dórdio Guimarães, Eugénio Salvador, Fernando Pádua, Fernando Piteira Santos, Fialho Gouveia, Francisco Sousa Neves, Francisco Sousa Tavares, Isabel Bahia, Isabel Hub Faria, João Rosa, João Salgado, João Sousa Monteiro, João Vaz, Jorge Ponce Leão, José Alarcão Troni, José Cardoso Pires, José Carlos Ary dos Santos, José Luis Feronha, José Machado Leite, José Manuel Casqueiro, José Manuel Serrão, José Maria Pedroto, José Miguel Júdice, José Pedro Croft, José Vaz Pereira, Júlio Isidro, Krus Abecassis, Lia Gama, Luís Azevedo, Luís Fontoura, Luís Lagrifa, Maldonado Gonelha, Manuel Alegre, Manuel Figueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Maria Alberta Meneres, Maria Antónia Palla, Maria Antónia Vasconcelos, Mário Viegas, Miguel Veiga, Moniz Pereira, Natália Correia, Nené, Nuno Xara Brasil, Octávio Pato, Paulo Portas, Pedro d´Anunciação, Peixe Dias, Raul Lourenço Lapa (“Horus”), Raul Solnado, Rita Rolão Preto, Rosa Lobato Faria, Ruy Carvalho, Sá Pereira, Sam, Sanches Osório, Sousa Veloso, Teresa Matos Sequeira, Teresa Monteiro, Tomás Branquinho da Fonseca, Tomás Ribas, Vera Lagoa, Vítor Alves, Victor Hugo Sequeira, Vítor Jesus, Vítor Matias Ferreira.



Concepção e Plano Geral da Obra: Fernando Ribeiro de Mello e J. Alvim de Carvalho
Editor Responsável: J. Alvim de Carvalho (registado sob o n.º 409 409)
Copyright: «Anuário do Futebol Português e Europeu» (publicação periódica e Europeu)
Proprietários: L. Graciano Mota e Rodrigo Luz
Edição: Renovação. (Apartado 1617 – 1016 LISBOA CODEX) Tiragem: 20 000 exemplares. Setembro 1983
Distribuição Exclusiva: Electroliber, Lda. (Apartado 4004 – 1501 Lisboa Codex)

Wednesday, July 06, 2011

Duchamp por Breton



Regressamos à Antologia do Humor Negro para aqui deixarmos o texto onde André Breton apresenta um dos autores antologiados, Marcel Duchamp. Texto traduzido por Luiza Neto Jorge.

Tendo franqueado o fosso que separa as ideias particulares das ideias gerais, o que já é próprio dos grandes espíritos, o génio de Marcel Duchamp consiste, talvez, em tê-las, por seu turno, abandonado para se antecipar aquilo a que poderíamos chamar as ideias gerais particularizadas. Perguntamo-nos, assim, se, sob o nome de Délie, Maurice Scève terá cantado uma determinada mulher, “l´idée”¹ (abstraída de toda e qualquer representação feminina), l´idée cujo anagrama é Délie. Tendo os princípios correntes do conhecimento e da existência e da existência sido deliberadamente transgredidos, acontece que pela primeira vez, com Duchamp, se pode «dar sempre ou quase sempre o porquê da escolha entre duas ou mais soluções (por causalidade irónica)», ou seja, fazer intervir o prazer na própria formulação da lei à qual a realidade deverá responder. (Exemplos: «um fio horizontal tomba da altura de um metro sobre um plano horizontal, deformando-se como bem lhe apraz e apresenta uma nova figura da unidade de comprimento», ou «por condescendência, um peso é mais pesado à descida do que à subida», as garrafas de marca (género Benedictine) obedecem a um princípio de densidade oscilante.) É nisto que reside aquilo a que Duchamp chamou o «ironismo de afirmação», por oposição ao «ironismo negador, unicamente o que está para o humor como a flor da farinha para o trigo. Neste caso o moleiro, aquele que, ao cabo, de todo o processo histórico de desenvolvimento do dandismo, acedeu, no dizer de Mme Gabrielle Buffet, a fazer figura de «técnico benévolo», o nosso amigo Marcel Duchamp é seguramente o homem mais inteligente e (para muitos) o mais incómodo desta primeira parte do século vinte. A questão da realidade, nas suas relações com a possibilidade, questão essa que continua a ser a grande fonte de angústia, encontra aqui resolução, da maneira mais audaciosa: «A realidade possível (obtém-se) distendendo um pouco as leis físicas e químicas.» Temos por certo que, mais tarde, se tentará encontrar a ordem cronológica rigorosa dos achados a que no campo plástico este método foi susceptível de levar Marcel Duchamp e cuja enumeração excederia o âmbito desta nota. O futuro só terá que remontar sistematicamente o seu curso e descrever-lhe cautelosamente os meandros, em busca do tesouro oculto que foi o espírito de Duchamp, através deste, daquilo que mais raro e precioso há nele, o próprio espírito do nosso tempo. Ora isto implica não só uma iniciação mais profunda como também a mais moderna maneira de sentir, cujo humor se apresenta, nesta obra, como condição implícita.

Após uma passagem meteórica pela pintura (Jeune homme triste dans un train, Nu descendant un escalier, Le roi et la reine entourés de nus vites, Le roi et la reine traversés par dês nus vites, Vierge, Le passage de la Vierge à la Mariée, Mariée), e ao mesmo tempo que, de 1912 a 1923, se vai consagrando a essa espécie de «anti-obra-prima»: La mariée mise à nu par ses célibataires même, que constitui a sua obra capital, Duchamp, como protesto contra a indigência, a seriedade e a vaidade artísticas, assina um certo número de objectos feitos (ready made) dignificados a priori unicamente em virtude da sua escolha: cabide, pente, garrafeira, rodas de bicicletas, urinol, pá para a neve, etc. Enquanto não passa aos ready made recíprocos («servir-se de um Rembrandt como tábua de engomar»), contenta-se, ainda no mesmo campo, com os ready made auxiliados: Joconda (sic) embelezada com um par de bigodes, gaiola de pássaros cheia de pedaços de mármore branco a imitar cubos de açúcar e atravessada por um termómetro, etc.

Em alternância com alguns preconceitos inéditos, bem característicos da sua maneira de ser, apresentaremos aqui uma série assaz completa de frases compostas de palavras submetidas ao «regime da coincidência», frases nas quais este ou aquele objecto encontrou o seu acompanhamento ideal, frases que têm o próprio brilho da telescopagem (sic) e mostram o que no campo da linguagem é possível esperar do «acaso em conserva», a grande especialidade de Marcel Duchamp.
1 A ideia (N. T.)

Andre Breton