Thursday, December 13, 2007

Sobre as Feiticeiras - algumas imagens

O diabo, por Stanislas Lepri. 1955


Procura da marca das feiticeiras, por Clovis Troville, 1961


Máscara funerária de Michelet


Execução da feiticeira Anne Hendricks em Amsterdam, 1571, por Jan Luyken

(clique nas imagens para aumentar)

Ela anda por aí...


A Antologia do Humor Português anda por aí. Baptista-Bastos, numa entrevista ao Ipsílon, suplemento do Público (dia 22 de Junho de 2007), deixou-se fotografar na sua biblioteca, onde se destaca um exemplar da Antologia – centrado no interior do circulo branco feito por nós. Pela imagem, é um exemplar em muito bom estado. Não temos a certeza, mas quase garantimos que Batista-Bastos e Fernando Ribeiro de Mello se conheciam, frequentando ocasionalmente os mesmos circuitos literários de Lisboa.
Encontrámos outro estimado exemplar da Antologia, um destes dias, na Figueira da Foz. No edifício da Biblioteca Municipal, esteve patente ao público uma exposição sobre a história da Casa Havanesa local, onde se apresentavam peças de mobiliário, material de escritório, cartazes e edições antigas. Num velhinho armário/expositor estavam alguns livros raros, destacando-se o exemplar do nosso adorado “tijolo”.
Numa emissão recente do Câmara Clara, na RTP2, onde se falava de cartoons e caricaturas com os convidados Augusto Cid e André Carrilho, em cima da mesa, eis um exemplar do “livro da dentadura”! Aliás, não foi a primeira aparição pública de uma destas Antologias no programa de Paula Moura Pinheiro. Uma das primeiras emissões do Câmara Clara, onde o tema era o humor e os convidados foram Ana Bola e Ricardo Araújo Pereira, o valioso livro foi naturalmente um dos destaques, sendo no entanto de referir que ignoraram a Antologia do Humor Negro de André Breton.

A Vida Secreta de Adolf Hitler, de David Lewis

(edição de 1978)


Tradução de Guilhermina Ramalho
Adapatação da capa por Jorge Cardoso
Colecção Documentos

Arranjo gráfico de Fernando Ribeiro de Mello / Edições Afrodite

Na contracapa

Deus e o Super-Homem – um líder que renunciara aos prazeres da carne e que sacrificou os desejos sexuais no altar de uma Alemanha maior ...

Esta era a imagem cuidadosamente tecida por Goebbels e pela máquina de propaganda do Partido. A vida sexual do Führer permaneceu um segredo de Estado do Terceiro Reich, rigorosamente guardado. Ninguém conhecia o sádico sexual e dissoluto cujos estranhos e pervertidos desejos deram origem ao suicídio ou assassínio de muitas das suas amantes. Ninguém, a não ser um homem – Heinrich Himmler, o correligionário mais íntimo de Hitler e em quem mais confiava. Só ele possuía provas documentais sobre o assalto homossexual que fizera Hitler perder a sua virgindade. Conhecia a verdade acerca do assassínio da sobrinha e amante de Hitler, Geli Raubal. Tinha filmes e fotografias de Hitler com uma empregada de uma loja e com uma estrela de cinema. Sabia o bastante para destruir a reputação imaculada de Hitler e reuniu as provas justamente com esse propósito em mente.

Foi como dinamite política espalhada pelo mundo depois da guerra. Mas após intensas pesquisas, David Lewis reconstruiu o Dossier Führer, mostrando um novo e terrível retrato do homem privado por detrás da máscara pública.


3 ilustrações de Fernando Calhau no livro Giroflé Giroflá



Entrevista a Alice Gomes

Alice Gomes entrevistada para o Jornal de Letras e Artes de 8 de Junho de 1966.

«Entre as crianças que tenho podido observar, o sucesso da «Poesia da Infância» tem sido fulgurante» Alice Gomes


São tão poucos os livros de poesia editados a pensar nas crianças, que não podemos ficar indiferentes aparecimento de «Poesia da Infância», uma colectânea que Alice Gomes resolveu, em boa hora, dar à estampa.
A escritora já há dez anos havia publicado «Poesia para a Infância», mas agora são as próprias crianças que, pela sua mão vêm aos escaparates das livrarias, numa sinceridade e numa pureza despidas de toda e qualquer roupagem literária.
Foi este o motivo que no levou a formular algumas perguntas à escritora Alice Gomes.


Poesia de adultos para crianças ou poesia de crianças para crianças?
A poesia é um bálsamo para toda a gente (não repare no arcaísmo). Se nos lembrarmos do encanto que tem sido para crianças e adolescentes a colectânea que fiz há anos, «Poesia para a Infância» - poesia que precisamente quis que fosse autêntica, de verdadeiros grandes poetas e nem sequer aceitei que um dos nossos maiores me fizesse versos de propósito, com medo de que a puerilidade, que ele achava necessária, traísse a verdadeira poesia ... – a primeira parte da primeira resposta está aí. Quanto à poesia de crianças... para crianças, confesso que tive receio de não acertar. Quando algumas pessoas liam os versos «Poesia da Infância», antes dela sair, aventavam que aquilo era para adultos. Oh! mas a gente não percebe nada de crianças! O sucesso da «Poesia da Infância» entre as crianças que tenho podido observar, tem sido fulminante. As caritas delas ao ouvir ler ou a ler, têm sido para mim outras tantas sensações de poesia. Um amiguinho meu já comprou dois livros porque no primeiro... caiu um borrão.
Estará na mão de quem educa despertar o amor pela poesia?
Sem dúvida que está. Já pensou no que é educar? Ou quer referir-se só aos professores? A estes, sim, é que compete a tarefa mais completa. E como digo na minha apresentação da «Poesia da Infância» o clima que nós, os professores, facultamos à criança a fará viver em poesia.
E são cinco ou seis horas do seu dia acordado que as crianças vivem nas escola ou para a escola. Mas a família tem de completar a tarefa. E completa. Demos-lhe com quê, ajudêmo-la. A mãe de um dos meus mais fecundos poetas tinha rasgado os poemas que não prestavam. Mas eu guardara a cópia... Ao vê-los publicados, compreendeu e veio... pedir licença para me beijar.
Deverão os educadores sugerir a feitura de poemas livres, propor temas, ou aguardar que a poesia surja espontânea?
O poema é sempre livre. Mesmo quando rima. Olhe, eu quando tinha doze, catorze anos saía-me tudo em soneto. Mas na «Poesia para a Infância», o poema mais branco que lá está foi escrito por uma poetisa, ao tempo, de treze anos.
Quanto ao resto da sua pergunta posso-lhe dizer que no nosso livro há de tudo. Esse caderno que guardo há vinte anos, foi todo espontâneo. Mas nós tínhamos um jornal manuscrito... Todavia, aquele mesmo inspirava-se em tudo: temas de história – imitação de Afonso Lopes Vieira – paisagens que o impressionavam, as cheias do rio e a sua tragédia, o burro com o seu carrego e até um botão. Oh! o poema do botão que, não sei porquê (esta coisa de eu andar sempre às pressas), falhou nesta minha colectânea e que já tive vontade de chorar por causa disso. Olhe, aqui está ele.
Uma das colaboradoras deste livro, por sinal do ensino oficial, propunha temas para todas as alunas das últimas classes primárias. Os melhores (para mim, mea culpa) foram os publicados. Uma outra colheu dezenas de poesias feitas todos os anos no dia em que começava a Primavera. Mas a atitude que agrada mais (não falemos em dever) é a de esperar que a poesia surja espontânea. Surge muitas vezes sem estímulo aparente, mas os estímulos são de toda a espécie. As leituras, as audições, a emulação de um camarada. Emulação não digo bem, talvez a lembrança... Este livro está a ter esse efeito e de que maneira, entre as crianças que conheço.
Deve continuar a insistir-se na declamação, quer individual quer colectiva, de poemas previamente decorados, ou acha que se trata de um método negativo?
Não, o método não é negativo. O que pode ser nefasto é o mau gosto do quem escolher os recitativos. No ensino francês, Récitation constitui uma matéria tão importante como a Gramática.
Recitar é educativo, principalmente para a articulação, a colocação da voz, a memorização, a própria leitura porque, para decorar, tem de se ler muitas vezes e com um fim. Domina ainda a timidez que tolhe normalmente a criança em presença dos adultos, dá uma presença de espírito que lhe servirá pela vida fora, e – supremo bem – leva-a a conhecer os poetas.
Para o sentimento da poesia, propriamente, é válido porque será, se o for, mais um contacto com ela.
Poderá a ilustração de poemas, um estreito e permanente contacto entre o desenho e o ensino da língua, abrir simultaneamente a criança às cores e aos ritmos?
Essa pergunta já implica a resposta e só prova que o senhor está dans la chose, como me disse um cultor da arte infantil, uma vez, na Unesco.
Os meios de abrir simultaneamente a criança às cores e aos ritmos, como tão bem diz, estão ao alcance do professor e tenho só a dizer-lhe que isso está hoje no espírito dos orientadores, honra lhes seja.
Como reage a criança à poesia sem métrica e sem rima?
A criança gosta da rima, acha graça aquelas palavras que parecem o eco umas das outras. Mas a poesia autêntica, com o seu ritmo próprio, se for bela, se for bem lida, se for poesia, é ouvida pelas crianças com o mesmo encanto com que ouvem as metrificadas de sete e dez silabas tónicas a que os nossos ouvidos e os nosso dedos se habituaram.
A entrevista terminara. Mas Alice Gomes tinha mais uma história para nos contar. O seu amor pelas crianças podia mais que a rápida marcha dos ponteiros do relógio. Escurecia. Não só a voz, as mãos também, os olhos, o coração, falavam de ternura, graça, ingenuidade, pureza. Falavam de crianças. Falavam de poesia.

José Correia Tavares

Giroflé Giroflá, de Alice Gomes

(edição de 1970)


N.º 6 da Colecção infantil Cabra-Cega
Capa e ilustrações de Fernando Calhau