Friday, May 08, 2009

Gravuras no Processo dos Távoras


Entre várias gravuras da edição do Processo dos Távoras há esta do Marquês de Pombal. Existem ainda outras, retiradas de «Altos Feitos do Marquês de Pombal», de Correia de Barros, ed. de 1882, e uma gravura de época, de autor anónimo.

A cinta promocional do Processo dos Távoras

O Processo dos Távoras

(edição de 1974)


O Processo dos Távoras – a expulsão dos jesuítas
Conselho de Ministro do Governo de D. José I

Colecção Clássicos
Coordenação, pontuação e ortografia de Manuel João Gomes
Comentários de Amadeu Lopes Sabino, Fernando Luso Soares, Grupo de Trabalho e Manuel João Gomes
Edição, plano e arranjo gráfico de Edições Afrodite / Fernando Ribeiro de Mello

Sobre os textos que se vão ler

(de uma espécie de introdução escrita por Manuel João Gomes apresentamos os pontos 3, 4 e 5)

3. O Processo dos Távoras – o texto que a seguir se apresenta – tem todas as possibilidades de não ser um texto autêntico. Na opinião de muitos historiadores tem todas as possibilidades de ser um texto forjado, sendo ainda de considerar o facto de ser coisa fingida o próprio julgamento de que o processo dá conta. Além de que o próprio crime, neste processo julgado, pode não ter existido, sendo assim todos estes factos e textos pura representação, teatro político que, de verdadeiro, só tem o desenlace: a morte por enforcamento, cremação, garrote, decapitação e o mais que se verá... de algumas das personagens aparecidas em cena.
O texto, de qualquer forma, foi escrito, e podemos ler hoje nele muitos factos e realidades, importando-nos pouco o facto de a este texto corresponder, na realidade, um processo judicial autêntico ou um crime praticado.
Foi este dito texto reconstituído em 1777, vinte anos depois da execução dos réus, por ordem da rainha D. Maria que, como se sabe, condenou Pombal, principal «juiz» deste processo, a residência vigiada. Parece que o Marquês, guardou consigo o texto original deste (e outros) processos, não o deixando ficar nos arquivos oficiais. E, se é certo que mais tarde o dito original foi achado, não durou muito tempo porque o rei D. João IV o mandou reduzir a cinzas (parece que com o fim de agradar a certos nobres), segundo o testemunho de Brito Aranha, nos Processos Célebres do Marquês de Pombal.
Reconstituição a partir de uma cópia (reputada com autêntica), o Processo esteve guardado no paço Real até 1912 e está hoje na Biblioteca Nacional (manuscrito n.º 9161), que dele fez em 1921 uma edição.

4. A edição que a seguir apresentamos segue o traslado que à ordem da senhora D. Maria foi realizado, em 1784, pelo Desembargador Henrique José de Mendanha Benavides Cirne.
Segue o traslado mas não pretende ficar por aí. À desorganização que os textos do dossier apresentam, na sua escrita semi-arcaica, pretendemos impor certa organização que tomará forma no seguinte:

a) Emenda de determinadas gralhas, apontadas pelo próprio Henrique Cirne no final do texto.

b) Disposição adaptada à escrita tipográfica, capaz de oferecer melhor legibilidade que a disposição gráfica própria dos manuscritos.

c) Divisão dos papéis em quatro ciclos de documentos que marcam outros tantos sub-dossiers da actuação do tribunal. No ciclo A se verá esclarecido o modo como foi «instituído» o tribunal especial para julgar o crime. No ciclo B se hão-de definir os modos como ele tribunal age imediatamente. No ciclo C há-de apreciar-se o modo como sentenceia e no ciclo D o modo como se justifica de uma actuação acelerada e secreta: o último documento é o discurso do advogado de defesa (que não defende mas causa os réus e se revela um gracioso pró-forma) como coroa de um acto político em que se passou pela legalidade como gato por brasas.

d) Actualização ortográfica, pela razão única de tornar fácil a leitura de textos que esta edição quer ver lidos com certo prazer. Algumas ortografias «desactualizadas» mantêm-se, pela razão de terem algum sentido no corpo do texto (como é o caso de certas palavras serem escritas com maiúsculas).

e) São nossos os títulos que vão entre parêntesis

5. Permitimo-nos chamar a atenção para aquele que julgamos ser o mais decisivo dos documentos neste livro afixados: o que expulsa os Jesuítas e institui «novas» escolas que substituam as deles, na base de uma «nova» filosofia e de uma «nova cultura»: se a mais nada tivessem levado os acontecimentos de que este processo dá conta, essa decisão abrupta (e no meio de um processo-crime) seria esta o bastante para considerarmos como coisa malgré tout importante esta representação que Sebastião José de Carvalho e Melo encenou com a rate e a ciência de quem percorreu as europas e nelas aprendeu mil coisas sobre regimes – velhos e novos – que poderiam dar outra face aos países e às histórias.Face essa que, desta feita, se nos mostra cheia de sangue, esse adereço indispensável a esta espécie de teatros.

Gracias Insónia



Foi-se o Insónia. Presume-se que hmbf já dorme que nem um bébé. Ainda bem para ele. De menos para nós com tamanha ida. Aqui deixamos um merecido apontamento sobre o Henrique e o seu extinto (ou simplesmente inactivo) blog, que em tempos nos ajudaram a criar esta página e a divulgá-la. Gracias.

“Vou a Coimbra ver o otorrino.”

Regressamos ainda à recente edição de O Festim da Aranha, ao qual já aqui fizemos referência. Uma edição da Assírio & Alvim que garante descendência à Antologia do Conto Abominável, das Edições Afrodite.
Num texto incluindo no Festim da Aranha, no lugar onde devia estar O Alma-Grande, de Miguel Torga, Aníbal Fernandes esclarece os contratempos que impediram a inclusão do conto do escritor português em ambas as antologias de contos cruéis.

Apresentamos um excerto desse texto:

– Sim, de novo. É a segunda nega que O Alma-Grande dá a uma antologia da mesma zona literária. Com a minha melhor letra de 1969, escrevi ao Torga uma carta onde pedia autorização para fazê-lo figurar numa outra antologia [Antologia do Conto Abominável, Lisboa, Afrodite, 1969] que é antepassado directo desta. Dez contos, entre os vinte e um de O Festim da Aranha, escorregaram dessa recolha que assumia um critério um pouco diferente. Eu punha-o nos píncaros, como ele secretamente gostava contorcendo embora o rosto em sentido contrário. Mostrava-lhe que conhecia a sua obra e confiei, já que na carta de abertura da segunda edição de Novos Contos da Montanha me chamava Querido Leitor e tratava por tu. Era um engano. Eu era querido quando o lia, e muito menos querido quando lhe pedia. Mas nenhuma surpresa ainda assim eu teria se recusasse. Surpreendia-me não dizer nada nem mandar alguém dizê-lo.«O seu silêncio absoluto levou o editor a comunicar-me: “Vou a Coimbra ver o otorrino.”Achei má ideia e com duvidosos resultados. Insistiu com sarcasmo: “Levo-lhe umas amígdalas bem infectadas, uns adenóides, talvez uma otite...” Respondi-lhe que não se mostrasse Rei Mago a fazer oferendas, e acrescentei: “O otorrino só é visto em dias que nasçam nublados dentro e fora de si próprio; de manhã cedo ou então ao entardecer, quando passa em direcção à Atlântida.” Falou-me depois de um amigo que conseguia aproximar-se até bastante perto do seu eriçado isolamento. Qual quê! Soprou-lhe um não agreste, de vento entre as pedras. Mas pouca importância prática isto chegou a ter, porque o livro vendeu-se menos de um mês, retirado do mercado pela polícia de Salazar.
– Era assim tão político?
– Não. Hoje vai estando esquecido que a polícia pastoreava com vara grossa a arte que mexesse na política, nos costumes, no erotismo e nos excessos. O editor Ribeiro de Mello era malquisto porque enfrentava, com um desaforo até ali desconhecido, as normas tuteladas pelo regime. O livro somava excessos. No cinema, uma Bette Davis de grand-guignol só matava com uma martelada, e não várias, a criada de O Que Teria Acontecido a Baby Jane?; o espectador português foi poupado à maior parte da morte por extenso numa câmara de gás, que Susan Hayward interpretava até à última contorsão em Quero Viver! O lusitano tinha de ser desviado dos excessos porque poderia, manipulado por eles, embriagar-se e ceder a desvarios que seguem pela grande verdade do saber algarvio: só se sabe como começam...
– Dizes bem...
– De qualquer forma, a recusa do Torga teve um curioso ricochete no artigo que o jornalista Acácio Barradas escreveu para o Diário Popular. Chama-se A Misantropia de Miguel Torga e começa por relembrar pedaços de outro, do Luiz Pacheco no Jornal de Notícias do Porto. Tenho-o aqui. Tinha já dito Luiz Pacheco: “Particularmente, sabemos que Aníbal Fernandes desejava incluir ainda O Alma-Grande de Miguel Torga, e só não o fez por não ter obtido autorização do autor, atitude explicável para todos quantos não desconhecem em que abismos de misantropia este se confinou nos últimos anos [...] a justificar, e cada vez mais, o desinteresse que Torga e a sua obra (do passado) merecem nas gerações hodiernas.”