Thursday, May 17, 2007

Um conto de Ambrose Bierce

Ambrose Bierce

Para o Cão, aqui fica um conto cruel da Antologia do Conto Abominável, escrito por Ambrose Bierce, com o título Óleo de Cão:

O meu nome é Boffer Bings. Nasci de pais honestos, qualquer deles de bastante humilde profissão: meu pai fabricante de óleo de cão; minha mãe proprietária de uma pequena oficina à sombra da igreja, onde eram decepadas crianças indesejáveis. Desde a infância me incutiram hábitos de trabalho assíduo, não só ajudando o meu pai a encontrar cães para os seus caldeirões, como por solicitar a minha mãe com frequência que me encarregasse de dar sumiço aos restos do seu labor. No cumprimento desta tarefa sentia eu necessidade de me apoiar com frequência em todos os recursos da minha inteligência natural, porque os polícias da vizinhança contrariavam a actividade da minha mãe. Não que eles tivessem sido escolhidos pelo partido da oposição ou alguma vez tivessem feito do caso questão política: a coisa era assim mesmo, acabou-se. A profissão do meu pai naturalmente menos impopular, ainda que os donos dos cães desaparecidos sentissem contra ele certas dúvidas que recaíam, de algum modo, sobre mim. O meu pai tinha como sócios-mudos todos os médicos da cidade e bem rara era a receita que não comportasse aquilo que lhes aprazava chamar Olcan, na verdade o mais precioso remédio até hoje descoberto. A maior parte das pessoas recusava-se porém a consentir sacrifícios pessoais para benefício dos necessitados. Como é de esperar, muitos dos mais gordos cães foram proibidos de brincar comigo, o que feriu de modo bem doloroso a minha sensibilidade de jovem e me impeliu, em dado momento, a embarcar como pirata.
Causando indirectamente a morte dos meus bem-amados pais, a referir os dias felizes do passado não posso as mas das vezes deixar de lamentar as desgraças que desencadeei e haveriam de exercer profunda influência sobre o meu futuro.
Certa noite passava eu à frente da olearia do meu pai com o cadáver de uma criança perdida que provinha da oficina da minha mãe, quando vi um polícia a fixar com a maior atenção os meus movimentos. Bem cedo aprendi que os actos de um polícia, seja qual for o seu aspecto, são inspirados pelos motivos, mais repreensíveis. Evitei assim o representante da ordem, esquivando-me para dentro da olearia por uma porta lateral entreaberta. Dei a volta à chave e fiquei a sós com o pequeno morto. O meu pai já estava deitado. Só havia a claridade do forno e a nódoa sanguínea que ele punha debaixo do caldeirão, os reflexos vermelhos projectados de encontro à parede. O óleo ainda fervente fazia girar no caldeirão as suas bolhas preguiçosas, trazia um ou outro pedaço de cão à superfície. Sentei-me, à espera que o polícia afastasse, mantendo nos joelhos o corpo nu da criança perdida, acariciando-lhe meigamente os cabelos curtos e sedosos. Ah! que linda criança! Já naquela idade ei sentia uma verdadeira paixão pelas criança, e ao contemplar o anjo via nascer dentro de mim o desejo vago de que apequena ferida vermelha do seu peito (obra da minha mãe) não tivesse tido um resultado mortal. Adquirira o hábito de atirar as crianças àquele rio que a providencial natureza concebera expressamente para o uso que eu lhe destinava. Sucedia, porém, que eu não ousava naquela noite abandonar a olearia, com medo do agente da polícia. «Ao cabo e ao resto – dizia a mim mesmo – enfiar a criança no caldeirão não será coisa de maior importância. O meu pai não saberá distinguir estes ossos dos ossos de um cão pequeno, e o insucesso que pode resultar do emprego de outro óleo diferente do incomparável Olcan nada pesará junto de uma população que não deixa tão facilmente de ter fé». Não tardou que eu desse o meu primeiro passo em direcção ao crime, fazendo cair o pequeno cadáver no caldeirão e reservando a mim próprio incalculáveis aborrecimentos.
Com surpresa minha, no dia seguinte o meu pai esfregava as mãos de contente e declarava, a mim e a minha mãe, que obtivera um óleo de qualidade excepcional (assim rezava o juízo dos médicos a quem tinha patenteado algumas amostras). Afirmou a sua ignorância a respeito de tais resultados, já que eram de raça bastante ordinária os cães utilizados e tudo fora tratado como era seu hábito. Julguei meu dever explicar o que se passara... ter-se-ia no entanto paralisado a minha língua, a prever as consequências da revelação. Lamentando a cegueira que até à data fizera ignoradas as vantagens da fusão das suas indústrias, os meus pais tomaram medidas rápidas para reparar o erro. A minha mãe instalou-se num recanto da olearia e eu fui desobrigado das minhas anteriores ocupações. Deixaram de pedir-me para dar sumiço aos cadáveres das crianças supérfluas, e já de mim não precisavam par atrair os cães ao seu destino porque o meu pai decidira não mais utilizá-los, embora lhes conservasse o honroso lugar no nome do óleo. Mercê da ociosidade súbita, seria talvez de esperar que eu me tivesse feito um debochado de péssimos costumes. Nada disso aconteceu. A santa influência da minha bem-amada mãe não deixou de proteger-me das tentações que assaltam a mocidade, além disso o meu pai era diácono da igreja... E dizer, ai de mim!, que por culpa minha culpa bem triste fim conheceram duas pessoas bem respeitáveis!
Descobrindo dupla vantagem em seu mister, minha mãe dedicou-se-lhe com reforçado zelo. Não contente em decepar por encomenda crianças indesejáveis e supérfluas, começou a calcorrear caminhos afastados e estradas desertas de onde trazia crianças de mais idade, por vezes adultos que lograva persuadir de forma a ser acompanhada àquela olearia. Por outro lado o meu pai, apaixonado pela superior qualidade do óleo produzido, alimentava os seus caldeirões com a maior das diligências. Transformar os vizinhos em óleo de cão, não tardou que fosse o seu único amor. Apoderou-se-lhes da alma uma actividade absorvente e tirânica que substituiu a esperança que alimentavam no ganho do Céu (por quem eram de igual modo inspirados).
Tão empreendedores acabaram por mostrar-se, que os seus concidadãos organizaram uma reunião pública no decurso da qual foram objecto de várias moções de censura. O presidente da assembleia declarou que todo e qualquer novo ataque à gente do lugar seria retribuído em tom hostil. Meus pobres pais saíram da reunião de coração partido, presas do maior desespero e – disso estou convencido – diminuídos na razão. De qualquer forma, julguei prudente não entrar com eles na olearia e deitar-me numa estrebaria.
Sob o efeito de não sei que misterioso impulso, levantei-me por volta da meia-noite e fui olhar à janela da sala do forno onde o meu pai ultimamente se deitava. As chamas brilhavam claras, como se a colheita do próximo dia se anunciasse abundante. Um dos grandes caldeirões fervia docemente, manifestava uma misteriosa discrição, ao que parece na ânsia do instante em que pudesse dar livre curso a toda a sua energia. O meu pai não se encontrava na cama, estava em camisa de noite, de pé, e agarrava numa corda sólida que ia preparando em forma de nó corredio. Os olhares que ele lançava à porta do quarto da minha mãe logo me fizeram compreender o fim que se propunha atingir. Eu sentia a língua e os membros paralisados de terror, não conseguia dar um só grito de alerta, ou fazer um movimento de intervenção. Abriu-se de repente a porta do quatro da minha mãe, sem ruído, e os dois esposos encontraram-se face a face, com grande surpresa aparente. A minha mãe também estava em camisa de noite e agarrava com a mão direita no utensílio da sua profissão, uma faca de lâmina delgada e longa.
Tal como o meu pai, não pudera conformar-se à renúncia do único ganho que lhe restava, cumpridas que fossem a minha ausência e a decisão hostil dos seus concidadãos. Olharam-se com flamejante fixidez e atiraram-se depois um ao outro num acesso de furor indescritível. Lutaram à volta da sala, o homem gritando pragas, a mulher lançando uivos inarticulados; ela tentando atingi-lo com a faca, ele esforçando-se por estrangulá-la nas suas mãos nuas. Não sei por quanto tempo sofri o infortúnio de contemplar tão desagradável quadro de infelicidade doméstica. Porém, ao cabo de um soco particularmente enérgico, os dois combatentes soltaram-se num movimento súbito.
O peito do meu pai e a faca da minha mãe revelavam as marcas sangrentas de um contacto funesto. Os dois esposos trocaram um olhar desprovido de amenidade e o meu pobre e ferido pai, que já sentia sobre si a mão da morte, arremessou-se para a frente sem atender à resistência do adversário. Estreitando em seus braços a minha bem-amada mãe, arrastou-a para muito perto do caldeirão fervente, reunindo débeis forças, projectou-se com ela dentro dele! Desapareceram ambos num instante, juntando o seu óleo ao óleo da embaixada dos cidadãos que tinham vindo na véspera convidá-los a comparecer na citada reunião pública. Convencido de que os bem deploráveis acontecimentos haveriam de fechar-me toda e qualquer carreira respeitável na minha cidade natal, instalei-me na célebre Otumwee onde redijo estas memórias com alma cheia de remorsos pela lembrança do acto estouvado que desencadeou tão deplorável desastre comercial.

Algumas ilustrações de Martim Avillez para o Apocalipse do Apóstolo João






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Catálogo actualizado

Convidamos os estimados visitantes a consultarem o Catálogo, que recentemente foi alvo de mais uma remodelação. Apresenta-se muito aproximado do que foram as edições de Fernando Ribeiro de Mello com o "selo" Afrodite. As colecções Autores I e II estão agora devidamente separadas (descobrimos recentemente que existe uma edição de Rol de Cornudos, de Camilo José Cela), enquanto nos Clássicos, passámos a fazer distinção entre a edição especial e as regulares do Grande Livro de S. Cipriano ou Os Tesouros do Feiticeiro. Passámos também a fazer distinção entre os dois volumes do Dossier 2.ª República. Nestes, e no livro de S. Cipriano, as edições têm diferentes arranjos gráficos, justificando-se entradas distintas. Desde o início desta página já fizemos a apresentação de 30 livros, podendo-se aceder a cada um através dos links no Catálogo.

A Vida Sexual de Robinson Crusoé, de Michel Gall

(edição de Agosto de 1978)


Tradução de G. P. Freire
Capa de Jorge Cardoso
Edição e arranjo gráfico de Fernando Ribeiro de Mello/Edições Afrodite

Na Contra capa


O que Daniel Defoë não teve a coragem de dizer.

Caíra a noite, envolta na tempestade. O pêlo das cabras luzindo na penumbra tornava-se excitante. Desse pequeno e compacto mundo de peles molhadas desprendiam-se quentes eflúvios que impressionavam estranhamente Robinson. De súbito, um enorme relâmpago ofuscou-as, logo se ouvindo o estampido do trovão. Uma cabra aterrorizada veio encostar a Robinson o traseiro trémulo, palpitante...

3 Milhões de exemplares vendidos nos E.U.A.

Saturday, May 12, 2007

E. M. de Melo e Castro


Três das mais interessantes publicações de Fernando Ribeiro de Mello tiveram a marca do engenheiro Melo e Castro. Em 1965 alguns dos seus poemas foram incluídos na Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, vindo por tal a ser um dos condenados pelo Tribunal Plenário de Lisboa. Esses poemas e outros posteriormente escritos foram editados nas Edições Afrodite em Abril de 1975, num volume intitulado Cara Lha Amas – poemas eróticos e sarcásticos. Em 1974, Melo e Castro aproveitou a 1.ª edição da Antologia do Conto Fantástico Português e assumiu a responsabilidade da 2.ª edição, acrescentando e excluindo contos, escrevendo também as notas críticas de apresentação e um estudo introdutório.

Bio-bibliografia escrita pelo poeta para a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica:

CRIMES DO SR. E. M. DE MELO E CASTRO

-Nasce na Covilhã em 19-4-1932
-Frequenta Medicina em Lisboa
-Vive 3 anos em Inglaterra onde se forma (distintamente) em Engenharia Têxtil (Bradford)
-1956 – Regressa a Portugal e ainda não se adaptou
-Professor do Ensino Técnico
-Director Adjunto do Laboratório Têxtil da F. N. I. L.

(fase pré-poética)
-1952 - «Sismo»
-1953 - «Salmos»
-1956 - «Ignorância da Alma»
-1960 - «Entre o som e o sul»
-1961 - «Queda Livre» - (col. Pedras Brancas)
-1962 - «Mudo Mudando» - (Notícias do Bloqueio»
-1962 - «Ideogramas» - (Guimarães Editores)
-1963 - «Poligonia do soneto» - (Guimarães Editores)
-«Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa» (em colaboração com Maria Alberta Menéres). 1.ª e 2.ª edições, 1959 e 1961 – Círculo de Poesia – Livraria Morais.
-Esquemas para o estudo da Poesia de António Ramos Rosa – in «Ocupação do Espaço» - Portugália Editora.
-«A Proposição 2.01 – Poesia Experimental» - 1965 – Ulisseia (colecção Poesia e Ensaio).
-Espera morrer um dia

Acrescentamos o seguinte:

Ernesto Manuel de Melo e Castro é um dos promotores mais entusiastas e lúcidos do vanguardismo fixado à fase da poesia «experimental», na qual o problema da essência implica a acuidade fenomenal do poema. Pressupõe-se, assim, a poesia como matéria viva cuja organização obedece a uma coerência própria. Neste terreno, a terminologia erótica, adquire uma nova especificidade: ela liberta-se da contaminação discursiva que nela espalha a cor obscena, para se converter em substância de um universo que cria pelo poder físico da palavra coisificada.
Como assinalámos na Introdução a esta Antologia encara-se assim a reconstrução do mundo a partir da reabilitação do execrado.Outra nota curiosa a destacar na poesia de Melo e Castro é o tratamento formal da tradição escarninha no poema «Delicadeza», cuja técnica de esconjuro usa os recursos da fórmula mágica que subjaz à poesia concretista.

Ilustrações de Eduardo Batarda na Antologia de Poesia Latina Erótica e Satírica




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Saturday, May 05, 2007

Eduardo Batarda

Eduardo Batarda Fernandes venceu o Grande Prémio EDP - 07, o mais importante galardão nacional de artes plásticas, que em edições anteriores distinguiu Álvaro Lapa (2004), Mário Cesariny (2002). Um prémio no valor de 35 mil euros - distinguiu um "espírito iconoclasta e revolucionário", afirmou António Mexia, presidente da EDP e do júri, durante o anúncio do prémio, no Museu da Electricidade, em Lisboa. Eduardo Batarda "tem uma cultura global e visual muito profunda, e uma obra que é imensamente complexa, com leituras de segundo e terceiro grau", justificou João Pinharanda, crítico de arte e consultor da Fundação EDP. Além disso, recordou, é um é um homem cujos interesses se estendem "da literatura à filosofia, da estética à arte antiga". Um "especialista em desenho do Renascimento com estudos reputadíssimos" e um cidadão construtivamente "crítico", como o demonstra a sua obra, desde as aguarelas dos anos 70 - "uma caricatura violentíssima da sociedade portuguesa", defendeu. A exposição do prémio será inaugurada na Primavera de 2008 (local a anunciar), com edição simultânea de um livro sobre o premiado.

Recordamos que Eduardo Batarda, no final dos anos 60 e início dos 70, chegou a fazer alguns trabalhos para as Edições Afrodite. Na Colecção Clássicos, fez as ilustrações da Arte de Furtar e alguns frisos do Manual dos Inquisidores, de Nicolau Emérico. Foi ainda o autor de quatro ilustrações para a Antologia de Poesia Latina Erótica e Satírica e dos desenhos de Histórias Com Juízo de Mário Castrim, na colecção infantil Cabra Cega.

Nasceu em Coimbra em 1943 e estudou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, sendo diplomado com o Curso de Pintura e o Curso Complementar de Pintura (1968) e no Royal College of Art, Londres, como pós-graduado, bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian (1971/1974). Está representado no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e nas colecções do Museu Nacional de Arte Moderna, bem como em colecções privadas na Europa, Reino Unido e Estados Unidos da América.

Foto e texto adaptado do Diário de Noticias, 21 de Abril de 2007

Natália Correia


Natália Correia teve participação activa na história das Edições Afrodite. Foi a responsável pela composição da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, edição pela qual respondeu em Tribunal. Escolheu os autores e poemas, escrevendo ainda o prefácio e as notas bibliográficas. Posteriormente, "avalizou" a edição pirata da Antologia, após o "desbaste" que as forças policiais do Estado Novo deram a alguns exemplares da edição original. Na editora de Fernando Ribeiro de Mello publicou três livros: um de poesia, intitulado O Vinho e a Lira (também alvo da censura), e duas peças de teatro: O Encoberto e Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente, esta numa luxuosa edição, da qual existem mil e quinhentos exemplares numerados e autografados pela autora. Escreveu ainda um dos comentários à Arte de Furtar. Da edição original da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, há uma tiragem especial de 500 exemplares numerados e autografados pela escritora nascida nos Açores. Nesta Antologia, Natália Correia apresenta-se assim:

Natália de Oliveira Correia, nasceu em 1923 na ilha de S. Miguel (Açores) vindo, criança para Lisboa, onde fez os seus estudos liceais.
Frequentemente arrumada pela crítica no cacifo surrealista, tem a autora a esclarecer que, se semelhante arrumo quadra à comodidade dos nossos fazedores de génios, de forma alguma define a sua poesia. Trata-se de um equívoco em que facilmente resvalam quantos não discernem a poesia senão através de esquemas. A verdade apresenta um aspecto totalmente inverso desta interpretação. Entendendo a poesia como substância mágica desorbitada da sua funcionalidade primitiva, que o poeta desespera por restituir à sua natureza orgânica primordial, afim de a tornar eficaz na recriação do mundo, por esta linha, «ante» e «post» surrealista, se presta a poesia de Natália Correia a ser integrada num movimento que não inventou mas apenas focou esta intrínseca constante do fenómeno poético.
Publicou teatro, ensaio e os seguintes livros de poesia: «Poemas» (1954); «Dimensão Encontrada» (1957); «Passaporte» (1958); «Comunicação» (1960) e «Cântico do País Emerso» (1961).
O erotismo, como ressumbração de uma vivência amorosa individual está longe de caracterizar a obra desta poetisa. Todavia, no sentido lato de um universo erotizado, animado pela impaciência genesíaca de sucessivamente se exceder, é-lhe gradual o desenvolvimento da perspectiva erótica que se afirma, sobretudo, em «Cântico do País Emerso». Esta evolução corresponde a um aprofundamento do mistério telúrico da mulher, que é a própria jornada da sua poesia, resultado no comprazimento de se observar como força genesíaca, deslumbradamente actuante na cópula primordial que a terrena espelha.

Sexo/Espionagem, de David Lewis

(edição de 1977)

Título Original: Sexpionage – The Exploitation of Sex by Soviet Intelligence
Tradutora: Maria Guilhermina Ramalho
Adaptação da capa: Nuno Amorim
Colecção Documentos
Edição e arranjo gráfico de Fernando Ribeiro de Mello/Edições Afrodite


Na contracapa

Um dos mais importantes repórteres da Inglaterra conta a história completa e arrepiante do KGB soviético em acção: as suas «andorinhas» (agentes femininos treinados) e «corvos» (homens prostituídos treinados, por vezes homossexuais); um curso de treino degradante concebido para libertar os alunos de qualquer inibição sexual; o quartel-general no número dois da Praça Dzerzhinsky em Moscovo; o interessante equipamento sofisticado actual; os apartamentos e quartos de hotel especiais em Moscovo e em outras cidades russas importantes, equipados com material fotográfico electrónico escondido, programado para operar automaticamente.

«Sexo/Espionagem deveria ser lido por todos aqueles que lidam com os Soviéticos; Lewis realizou um exposição convincente de como os Russos combinam as duas profissões mais antigas para extorquir ao Ocidente todos os segredos. A sua conclusão fria deve chocar mesmo os mais experientes.» Lyman B. Kirkpatrick, Jr.