Saturday, February 28, 2009

Edição pirata da Antologia de Poesia Erótica



Ainda nos anos de 1960, pelo facto de exemplares da edição da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica terem sido apreendidos pelas autoridades policiais e de esta ter saído rapidamente de circulação, foi feita uma edição "pirata" (contrafacção).

Esta edição veio assim ao encontro da grande procura que havia. Teve aprovação de Natália Correia mas nada a ver com as Edições Afrodite e Fernando Ribeiro de Mello. Saiu para a rua sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas e com "selo" de edição no Rio de Janeiro, Brasil, para evitar problemas de maior.

Aqui apresentamos a capa dessa edição, que se vai ainda encontrando em alfarrabistas a preço mais reduzido que a original.

Thursday, February 19, 2009

Prefácio de Natália Correia para a Antologia de Poesia Erótica



O Cativeiro de Afrodite

Quando Carolina Michaëlis de Vasconcelos se ocupou das cantigas satíricas dos nossos Cancioneiros medievais, sacrificando os preconceitos no altar da cultura, declarou que não evitaria as obscenidades que tão desafogadamente ocorrem no género burlesco dos Cancioneiros, sempre que estivesse em causa apurar a verdade.
Fazer nossas as palavras da corajosa investigadora, é uma homenagem que o seu exemplo nos impõe, afrontando uma moral onde à feminilidade sempre coube observar a regra de uma discrição apetecida pelo idealismo patriarcal.
Trata-se igualmente de abordar uma verdade, o propósito desta Antologia, cujas páginas encerram a não menos autêntica dimensão do génio poético português, escamoteada pela duplicidade de um jogo psíquico que tanto mais ascende ao vértice do arrebatamento da alma, quanto mais desce aos nossos esconsos das maquinações do instinto.
Meter ombros esta empresa, mais não é do que realçar a urgência de saneamento de uma época cuja legislação sexual, fundamentada na doutrina de Ambrósio, Orígenes, Agostinho e Jerónimo (R. briffaut, «The Mothers»), se exerce em conflito com um comportamento que exprime a anárquica tentativa de recuperar a natureza para salvaguardar o género humano dos valores em crise que persistem em configurá-lo. Não estamos pois, longe do estímulo afrodisíaco da repressão medieval, mesmo com as maiores ousadias literárias do século, como no caso de Jean Genet.

Ilustrações de Cruzeiro Seixas para a Antologia de Poesia Erótica
















Tiragem especial da Antologia de Poesia Erótica


Capa de um exemplar da tiragem especial de 500 exemplares da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, em papel off-set, numerados de 1 a 500 pelo editor e rubricados pela autora.

Digitalização da capa cedida por Jorge Meireles.

Saturday, February 14, 2009

Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica

(edição de 1966)


Selecção, prefácio e notas de Natália Correia
Ilustrações de Cruzeiro Seixas

Edições Afrodite

A edição especial

A contrafacção

O processo em tribunal

A cinta

Na badana

Como um veio subterrâneo, mas de curso ininterrupto, desafiando interdições e talvez, deliberadamente infringindo espartilhas regras de bem pensar e bem sentir (ou de não dizer o que se pensa e sente), a Poesia Erótica desde os cancioneiros aos nossos dias tem acompanhado a evolução do lirismo pátrio. Trazê-la à superfície é, pois, um acto de necessária liberdade – ainda que a sua irrupção venha alterar o traçado das vias por onde, respeitoso daquelas regras, um certo lirismo ordeiramente caminha.

Luiz Francisco Rebello


«Finalmente!» «Até que enfim!» «Já não era sem tempo!» - Com exclamações como estas, e outras semelhantes, será decerto recebido o aparecimento da presente Antologia por todas aquelas pessoas de boa-fé, de boa vontade, de consciência límpida, que já existem neste País. Talvez não sejam muitas; mas vão-se tornando cada vez em maior número, na luta contra os preconceitos em que foram (mal) educadas, na guerra – surda ou aberta – ao tartufismo reinante, na corajosa assunção da plena dignidade dos seus sentidos.
Não ter medo das palavras é não recear as realidades que elas exprimem; é, sobretudo, evitar o trânsito pelo consultório do psiquiatra. Os maiores dos nossos poetas conheceram, desde sempre, esta forma de terapêutica. Difundi-la, eis o que importa, eis o que pode contribuir, de maneira decisiva, para encaminhar muita gente nessas ou noutras vias de redentora libertação.
Com é possível que uma Antologia como esta ainda não tivesse sido realizada? Mas devemos antes felicitarmo-nos pelo facto de só agora ser empreendida. Com efeito, ninguém melhor do que Natália Correia – com a profundidade e com a extensão de sua cultura, com a indiscutível garantia do seu génio poético, com as provas exemplares da sua coragem cívica – poderia superiormente desempenhar-se desta empresa.
Obra de erudição, de criação e de civismo, há-de constituir, para os vindouros, um documento indispensável, e o nome da sua Autora tornar-se-á credor da mais legítima gratidão; mas é provável que também suscite, em meia dúzia de paranóicos, em duas ou três dezenas de recalcadas, a sádica nostalgia das fogueiras do Santo Ofício. Pela nossa parte, não deveremos esquecer o caso daquele magistrado que judicialmente perseguiu, em França, a Madame Bovary, de Flaubert, e Les Fleurs du Mal, de Baudelaire: anos depois, já reformado, foi surpreendido, numa igreja, a introduzir estampas pornográficas nos livros de missa das devotas. São geralmente assim os defensores da moral pública.

David Mourão-Ferreira

Saturday, February 07, 2009

A nova Antologia do Conto Abominável


O mais recente título da colecção Beltenebros da Assirio & Alvim, O Festim da Aranha, é uma antologia “histórias em estado de crueldade encontradas e traduzidas por Aníbal Fernandes”.

Aníbal Fernandes foi também responsável pela Antologia do Conto Abominável, das Edições Afrodite, publicada em 1969 (e rapidamente proibida pela PIDE).

Alguns contos de O Festim da Aranha, integram a edição da Afrodite, casos de Óleo de Cão de Ambrose Bierce, As Bocas Inúteis de Octave Mirbeau e O Massagista Negro de Tennessee Williams, entre outros.

Depois da recente sucessão da Antologia do Humor Português, é agora a vez da Antologia do Conto Abominável ter merecida descendência.